Em
nosso estudo anterior:
ð
Vimos que Jesus é
melhor e superior aos anjos pelas seguintes razões: 1) Os anjos são apenas anjos – Jesus Cristo é o Filho de Deus – v.5; 2) Os
anjos são apenas adoradores – Jesus Cristo é o adorado – v.6; 3) Os
anjos são apenas criaturas – Jesus Cristo é o Criador – vv.7-12; 4) Os
anjos são apenas servos – Jesus Cristo é Rei – vv.13, 14.
ð Vimos, também, a exortação do autor para: (1) apegarmo-nos ao conteúdo da Palavra – v.1; (2) apegarmo-nos a autoridade da Palavra – vv.2,
3; e (3) apegarmo-nos ao poder da Palavra – vv.3, 4.
Hoje,
vamos estudar Hb 2.5-18 com o tema: A humanidade perfeita de Jesus Cristo.
Stuart
Olyott falando sobre esse texto diz: “Que passagem tremenda! Ela mostra que o
Senhor Jesus Cristo tornou-se Filho do Homem para que pudéssemos ser filhos de
Deus. Ele veio à terra para que pudéssemos ser participantes de sua justiça.
Tomou a nossa natureza para que pudéssemos ter a sua. Tornou-se homem a fim de
restaurar-nos tudo o que havíamos perdido na queda de Adão.”[1]
Na
mentalidade judaica, influenciada pelo gnosticismo, quando Jesus se tornou
homem, tornou-se menor que os anjos e não poderia ser perfeito como Deus nem
como homem. Sabendo disso, o escritor, passa a demonstrar que Jesus Cristo é
perfeito como Deus, pelo fato de ser Deus, e perfeito como homem.
Assim
ele faz duas argumentações teológicas e práticas: 1ª) nos vv.5-13 ele
mostra que a superioridade de Jesus
Cristo não é cancelada por ele ter vindo entre nós como homem; e 2ª) nos vv.14-18 mostra que a superioridade
de Jesus Cristo não é cancelada por ele ter sofrido por nós como homem.[2]
Nosso
foco, hoje, é sobre a humanidade de Jesus Cristo. Por isso, quero trabalhar o
texto respondendo uma pergunta que, creio, é muito importante e deveria estar
na mente dos irmãos a quem a carta aos hebreus foi escrita e na nossa também: Por que Jesus Cristo precisou se tornar
homem?
Vamos
responder em quatro pontos: 1º) Para
cumprir o mandato que Deus entregou a Adão – vv.5-8; 2º) Para ser o
autor da salvação – vv.10-13; 3º) Para destruir o poder do Diabo a da
morte – vv.14, 15; e 4º) Para socorrer os filhos de Deus – vv.16-18.[3]
I. Para cumprir o mandato que Deus entregou
a Adão – vv.5-8
A
argumentação começa com a citação do Salmo
8 deixando claro que o homem foi criado por Deus com o mandato de dominar a
terra (Gn 1.26-28). Mas por conta do
pecado de Adão, toda a raça humana se tornou pecadora e o homem perdeu a sua
capacidade de domínio e possessão, e tornou-se um escravo do pecado (Gn 3.17-19).
Mas,
Jesus, ao assumir a natureza humana, cumpriu o ideal do homem perfeito
estabelecido por Deus – v.9. Aqui
podemos aprender quatro lições da humanidade de Jesus: 1ª) O período de sua
humanidade ou encarnação foi limitado ao prazo suficiente para a realização da
sua obra – v.9a; 2ª) A
intenção da sua humanidade foi morrer e salvar a humanidade – v.9b; 3ª) Por que se humanizou
todas as coisas, nos céus e na terra, estão sob a sua autoridade – vv.8, 9a (Mt 28.18; Ef 1.22; At 2.36; Fp 2.9-11); 4ª) A graça de Deus é a causa
da sua humanidade – v.9c (2Co 8.9; Ef 2.5-8).
A causa da redenção era o amor infinito de Deus para conosco,
pelo qual ele não poupou seu próprio Filho.
Arival Dias Casimiro
II. Para ser o autor da salvação –
vv.10-13
“Convinha
de forma soberana a Deus, como aquele que criou todas as coisas para os seus
próprios propósitos, conduzir muitos filhos à gloria”[4], isto é,
salvar todos aqueles alcançados por sua graça, mediante a fé – ... trazendo muitos filhos à glória... (v.10a; Ef 2.8).
Aqui no
v.10 Jesus é apresentado como o
Príncipe (autor na ARA) da salvação deles. A palavra usada aqui para príncipe
ou autor significa pioneiro, originador,
fundador (Hb 5.9; 12.2; At 3.15; 5.31).
Jesus realizou algo singular a favor da humanidade (v.9) e de maneira justa é chamado de autor da salvação eterna (5.9). Para o autor, “Jesus é em alguns
aspectos o líder qua agiu como alguém que desbravou a trilha, abrindo assim o
caminho para que outros o seguissem”[5] (Cf. 6.20; 12.1-3). Assim, ele não somente
abriu o caminho, mas lidera os salvos por meio do seu exemplo (Hb 12.2). Jesus é o alicerce sobre a
qual a salvação é garantida.
A obra
de Jesus realizada para a salvação é descrita de duas maneiras: 1ª) v.10b – consagração (aperfeiçoasse na ARA) – isto é, “os
sofrimentos de Jesus o qualificaram para ser a causa da salvação eterna”[6] (5.9; 10.14). “Não há aspecto algum em
que ele fosse moralmente imperfeito, mas pelo seu sofrimento e tentação, sua
morte e exaltação celestial, foi qualificado ou tornado completamente adequado
como o salvador do seu povo”[7]; 2ª) v.11 – santificação – assim, como o Salvador Perfeito, Jesus,
santifica um povo para Deus (10.10, 14,
29; 13.12). Ele é quem os separa para a salvação. A igreja é a comunidade
dos santificados (separados) em Cristo, que são chamados para serem santos (1Co 1.2).
Hebreus
usa três citações do Antigo Testamento para provar isso: 1ª) Salmo 22 – um salmo messiânico onde está claro que o Messias vê
a todos do povo de Deus como sendo irmãos; 2ª)
Isaías 8.17 – vê o Messias (Cristo) vindouro como colocando sua confiança
em Deus, provando assim tanto a sua humanidade quanto a sua identificação com
seus irmãos; e 3ª) Isaías 8.18 – uma
citação muito adequada para descrever o que o Senhor Jesus Cristo diz a
respeito de seu povo no céu.[8]
Aqui os
crentes aperfeiçoados e santificados são identificados de três maneiras: 1ª) como
irmãos – v.11; 2ª) como
adoradores – v.12; e 3ª) como
filhos – v.13.
III. Para destruir o poder do Diabo a
da morte – vv.14, 15
Aqui temos definido o supremo propósito de Jesus
Cristo assumir a forma humana - ... para
que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo
– v.14.
O autor afirma que o propósito da humanidade
perfeita de Jesus foi libertar o seu povo dos seus inimigos – a morte e o
diabo. Em outras palavras, no Evangelho está escrito: E dará à luz um filho e chamarás o seu
nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. (Mt 1.21).
João, em sua primeira carta, afirma: Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio.
Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo. (1Jo 3.8)
Portanto,
Jesus, por sua humanidade perfeita, trouxe libertação completa para todos os
que creem – v.15 (cf. Ef 1.3; Cl 1.13; Ef 2.1-4; Jo 8.32, 36).
Temos
três lições importantes aqui: 1ª) A identificação perfeita de Jesus Cristo com
a humanidade (Fp 2.5-11); 2ª) A
escravidão em que vive a humanidade perdida – do diabo e do pavor da morte;
e 3ª) A libertação completa realizada por meio do sacrifício de Jesus
destruiu o poder do Diabo que detinha o poder da morte (cf. Rm 5.12; Cl 2.15; 1Co 15.54).
IV. Para socorrer os seres humanos –
vv.16-18
Finalizando
sua argumentação, o autor, afirma, categoricamente, que Jesus veio para salvar
os seres humanos, pois ele assumiu a natureza humana para, por ela, salvá-la – v.16 (cf. Jo 1.10-14; Rm 8.1-4). Os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles
que vivem espiritualmente em Cristo (cf. Rm
4.16, 17; Gl 3.18, 19).
Stuart
Olyott parafraseando o v.16
esclarece essa verdade: Para obter tal
vitória, Jesus não se tornou anjo e, sim, descendente de Abração – judeu. Foi
assim que ele realizou a obra. O ponto evidente é que ele não socorre a anjos,
mas aos seres humanos.[9] João
Calvino disse sobre isso: “Ele nos
preferiu aos anjos, não devido a nossa excelência, mas a nossa miséria”.[10]
Temos
aqui, nos vv.17, 18, três lições de
Jesus como o sumo sacerdote:
1ª) Seu caráter – Ele é misericordioso e fiel
– “Ao participar da natureza humana, Cristo demonstrou sua misericórdia para
com a humanidade e sua fidelidade a Deus para satisfazer a exigência divina por
causa do pecado e obter assim, o perdão total para o seu povo” (Cf. 1Jo 2.2; 4.10)[11]. Jesus
é fiel ao cumprir as suas obrigações sacerdotais e é confiável naquilo que diz
e promete – Hb 10.23.
2ª) Suas funções – sacrificar e interceder –
Como sumo sacerdote que faz expiação por seu povo, Jesus fez expiação por nós
sacrificando-se e derramando o seu próprio sangue. Assim, os nossos pecados
foram imputados a Jesus e ele morreu em nosso lugar (Is 53.6, 12; 2Co 5.21). Como sumo sacerdote que intercede pelo seu
povo, Jesus é o nosso intercessor junto ao Pai – Rm 8.34.
3ª) Sua empatia e disposição – Na sua humanidade, Jesus conheceu o sofrimento
humano e a tentação, mas não foi abatido nem pelo sofrimento nem derrotado pela
tentação – ... ele nunca cedeu a elas nem
pecou. (4.15
BV)
Concluindo
A
humanidade de Jesus é uma das verdades centrais da nossa fé e do cristianismo.
Sem ela, a expiação de Cristo seria ineficaz em todos os seus aspectos. O
sacerdócio de Jesus seria uma farsa e a sua obra de intercessão uma mentira.
Jesus Cristo homem é o fundamento da obra de mediação, 1Tm 2.5 diz: Porque há um só
Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. E o
apostolo João declara que aqueles que negam a humanidade de Jesus são
enganadores e anticristos (1Jo 4.2; 2Jo
v.7).[12]
Quero
concluir com a leitura de Hebreus
4.14-16:
Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que
penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um
que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos
alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 15/08/2015
[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 25.
[2] Ibid., p. 26.
[3] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 4ª Lição, p. 16-20.
(O estudo segue a Lição 4 – Jesus Cristo é o Homem Perfeito, adaptados a nossa
realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas
já citadas).
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
SP, 2009, p. 1992.
[6] Ryrie, Charles C. Bíblia de Estudo Anotada Expandida,
Mundo Cristão e SBB, SP, 2007, p. 1200.
[7] Carson, p. 1992.
[8] Olyott, p. 28.
[9] Olyott, p. 29.
[10] Casimiro, p. 19.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1691.
[12] Casimiro, p. 20.
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