Em
nosso estudo anterior sobre a humanidade
perfeita de Jesus Cristo, fizemos a seguinte pergunta: Por que Jesus Cristo
precisou se tornar homem? Respondemos:
ð 1º) Para cumprir o mandato que Deus
entregou a Adão – vv.5-8; 2º) Para
ser o autor da salvação – vv.10-13;
3º) Para destruir o poder do Diabo a da morte – vv.14, 15; e 4º) Para socorrer os filhos de Deus – vv.16-18.
ð Terminamos afirmando que a humanidade de Jesus é uma das verdades centrais da nossa fé e do
cristianismo. Sem ela, a expiação de Cristo seria ineficaz em todos os seus
aspectos. O sacerdócio de Jesus seria uma farsa e a sua obra de intercessão uma
mentira. Jesus Cristo homem é o fundamento da obra de mediação, 1Tm 2.5 diz: Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo homem.
Hamilton
Smith diz que “os dois primeiros capítulos nos revelam as glórias da pessoa de
Cristo, preparando-nos dessa maneira para compreendermos a imensurável bênção
que resulta do Seu Ministério como o grande Sumo Sacerdote.”[1]
Já
temos visto que os irmãos “hebreus estavam considerando seriamente desistir de
seu compromisso com o Evangelho de Cristo para voltar ao judaísmo praticado
anteriormente.”[2]
Essa carta é, justamente, para persuadi-los a pensar diferente. O autor já fez
isso nos dois primeiros capítulos onde provou a superioridade da revelação e da
pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, ele passa a mostrar-lhes o perigo
da apostasia e a bênção da perseverança.
Hoje,
vamos estudar Hb 3-4 com o tema: O perigo da apostasia e o descanso
prometido.
I. O Perigo da Apostasia – 3.1-19
Inicialmente
o autor reconhece que os seus leitores originais são crentes verdadeiros e revela
três detalhes sobre eles (v.1): 1º) Eles
são irmãos – v.1a – pessoas que integram a família de Deus (Hb 10.19); 2º) Eles são santos – v.1b – pessoas que foram santificadas por Cristo (Hb 2.11); 3º) Eles são participantes da vocação celestial
– v.1c – pessoas que receberam o chamado do Evangelho e o receberam pela fé (2Tm 1.9, 10).
Esse
privilégio de ser chamado por Deus, pelo seu Evangelho, traz consigo
responsabilidades: considerai a Jesus Cristo,
apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão.
(v.1d)
Stuart
Olyott parafraseando essa passagem (v.1) escreve:
“À luz do que acabo de dizer, considerem a Cristo Jesus. Fixem nele os seus
pensamentos – poderem, estudem, meditem em Jesus.”[3] Aqueles
irmãos deveriam prestar mais atenção, observar mais, fixar os olhos espirituais
em Jesus Cristo. Eles deveriam olhar para Jesus de dois modos: 1º) como
Apóstolo da nossa confissão – ele foi enviado por Deus para ser a revelação
definitiva do seu caráter e da sua vontade (Jo 3.17; 8.42; 17.3; 1Jo 4.10); e 2º) como Sumo Sacerdote da
nossa confissão – ele foi constituído por Deus como nosso intercessor
diante dele, isto é, ele tornou possível um relacionamento com Deus (Hb 2.17; Rm 8.34; 1Co 12.3). Por isso,
“ele é o centro e o conteúdo da nossa
confissão”.[4]
O objetivo desse ensino era encorajar os cansados, desafiar os preguiçosos e
desobedientes e reanimar os que estão duvidando e se afastando da fé do
evangelho (Fp 1.27).
Creio
que, para o autor, um crente genuíno vê e segue Jesus como o Apóstolo e Sumo Sacerdote
da sua confissão, por outro lado, se alguém afirma ser um crente verdadeiro e
não vê Jesus dessa forma, está correndo o perigo de se tornar um apostata, ou
seja, voltar para sua religião anterior, no caso o judaísmo.
Assim
sendo, ele, apresenta três contrastes entre Moisés e Jesus, para mostra que
Jesus é quem deve ser seguido e é ele que está diante de Deus por nós – vv.2-6: 1º) Moisés fazia parte da
casa, era um membro da família, Jesus é o Criador da casa – v.3 (Hb 11.2, 25); 2º) Moisés era homem e Jesus é Deus – v.4; 3º) Moisés foi um servo na
casa de Deus, Jesus é o Filho de Deus em sua própria casa – v.5, 6.
Muito
pouco se tem dito sobre a apostasia atualmente, talvez por que esse assunto
assusta alguns crentes, ou por conta do discurso liberal de que não podemos
fazer julgamentos, ou mesmo porque a apostasia tem se tornado comum no meio
cristão contemporâneo e muitos não querem admitir o fato. Uma coisa é certa,
sempre que o assunto é mencionado, muitos entendimentos equivocados surgem.
Para
o texto que estamos estudando, apostar é não ficar firme em Cristo e seu
evangelho até o final (vv.6, 14). É
afastar-se do Deus vivo (v.12). Como
resultado, a pessoa não é mais reconhecida como pertencendo a Cristo e deixa de
entrar no descanso prometido a todos que lhe pertencem (v.6b, 14; 4.1).[5]
A
apostasia começa no coração, ou seja, nos afetos e pensamentos, no interior da
pessoa (v.8, 10b, 12, 15). Os passos
que levam a apostasia são: 1º) O
coração se torna endurecido diante da Palavra de Deus; recusa-se a acatá-la (v.8, 13, 15), porque, com toda
franqueza, o pecado parece ser mais atraente (v.13b); 2º) Em seguida,
vem a provocação – murmuração, insatisfação, reclamação e rebeldia (v.8, 16). Isso conduz ao pecado, ou
seja, fazer aquilo que é proibido, não sem querer, mas com desejo ativo (v.7); 3º) Isso leva a incredulidade (v.12,
18). A palavra usada no grego dá a ideia de rebeldia obstinada e
desobediência causada pela descrença. Quando isso acontece, o afastamento final
do Senhor já ocorreu. Tudo o que resta são as admoestações da Palavra de Deus
que, como nós sabemos, não são ameaças vazias (v.10, 11, 18, 19; 4.1).[6]
Arival
Dias Casimiro vê no texto seis estratégias para combater a dureza de coração
que leva a apostasia:[7] 1ª) Ouvir
e submeter-se a autoridade das Escrituras – v.7, 8, 13, 15; 1Pe 1.21; Sl 95.7, 8; 2ª) Aprender com os erros dos
outros – v.7-11; Sl 95.8-11; Êx 17; 1Co
10.11; 3ª) Guardar o coração contra o pecado – v.8, 10, 12, 15; Mc 7.21, 22; Pv 4.23; Sl 51.10. A incredulidade é
uma doença do coração, pois todo pecado brota do coração. A incredulidade é o
pior e mais perverso dos pecados, pois todo pecado vem dela (v.12); 4ª) Procurar conhecer os caminhos de Deus, ou seja, a sua vontade
em sua Palavra – v.10; Is 55.8, 9; Rm
12.1, 2; 5ª) Praticar o encorajamento (exortação) mutuo
na comunidade onde estamos inseridos – v.13.
Sobre o encorajamento, três observações: (1)
é para todos os crentes, (2) é
uma necessidade diária e (3) é necessário por causa do engano do pecado;
6ª) Guardar a nossa fé com firmeza e confiança – v.14; Fp 1.6. A evidência de que estamos unidos a Cristo é a nossa
perseverança em confiar em Deus, apesar das circunstancias (Hb 11.1).
Para
Olyott, evita-se a apostasia primeiramente pelo reconhecimento de que nenhuma
pessoa que professa ser crente entrará no céu se não perseverar na fé até o
fim. Talvez isso não se ajuste ao entendimento teológico de alguns, mas é uma
verdade bíblica – v.6, 14. Todos os
que professam seguir a Cristo devem reconhecer que não estão isentos de
apostatar, pois o uso das palavras qualquer e nenhum nos vv.12, 13 ressalta justamente isso (4.1).[8]
Deus não
tornou difícil para nós a perseverança. Se mantivermos em vista o líder da
nossa fé, seguindo-o de perto, chegaremos com segurança ao céu e gozaremos o
descanso eterno que nos prometeu.
Stuart Olyott
II. O descanso prometido – 4.1-16
(continua na próxima semana)
[1] Smith, Hamilton. Estudos sobre a Epístola aso Hebreus,
Deposito de Literatura Cristã, 2008, p. 31.
[2] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 31.
[3] Olyott, p. 31.
[4] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 5ª Lição, p. 21.
[5] Olyott, p. 35, 36.
[6] Ibid., p. 36.
[7] Casimiro, p. 23, 24.
[8] Olyott, p. 36.