Em
nosso estudo anterior: O que cremos sobre a Salvação, vimos
o assunto em três pontos:
ü
1º) Cremos
no chamado do Evangelho para a salvação; 2º) Cremos na condição para a salvação; e 3º) Cremos na aplicação da
salvação.
Terminamos
fazendo três considerações breves:
1) Que quando uma pessoa é regenerada, justificada
e santificada, ela é adotada na família de Deus com plenos direitos de filho e
herdeiro;
2) Que o nosso
ponto de vista da ordem das diferentes experiências da salvação começa pela instrumentalidade do Espírito Santo na
sua obra de convencimento com a Palavra (o chamado do Evangelho), e em seguida,
vem o arrependimento e a fé, e assim, acontece a justificação e a regeneração;
3) Que nossas
doutrinas da salvação nos distinguem dos
calvinistas, dos wesleyanos e de alguns
cristãos que separam o arrependimento da fé.
Hoje,
em nosso estudo da Fé Batista Livre, vamos ver a doutrina da perseverança dos
crentes e a possibilidade da apostasia, que está no Capítulo XIII do Manual de Fé dos Batistas
Livres do Brasil. E vamos fazer isso em três pontos: 1º) Cremos no que diz o Manual sobre a perseverança dos crentes e a possibilidade
de apostasia; 2º) Cremos
que há base bíblica para esse ensino – a perseverança dos crentes e a possibilidade
de apostasia; 3º) Cremos
e defendemos o ensino bíblico da perseverança dos crentes e a possibilidade de
apostasia.
O
Manual nos dá os principais elementos da nossa doutrina sobre a perseverança
dos crentes e a possibilidade da apostasia. Por isso, o melhor lugar para
começarmos a estuda-la é olhando mais claramente a declaração do Manual. O primeiro parágrafo tem três
frases que destacam três partes desta verdade.
1. Há bases sólidas para se ter
confiança na salvação final
Há bases sólidas para se esperar que o indivíduo verdadeiramente
regenerado persevere até o fim e seja salvo, por meio do poder da graça divina,
penhorada para sustentação do mesmo[2].[3]
Cremos
que podemos ter certeza da nossa salvação e nossa esperança de salvação final é
uma esperança confiante (Cf. 1Jo 5.13;
Rm 5.5). Por isso, não cremos que
a Bíblia apoie a ideia de que não podemos ter certeza. Esta incerteza não se
justifica frente às bases bíblicas sólidas da certeza. Assim, o crente não vive
no temor de cair.
Um
entendimento correto dos meios de
perseverança sustenta esta confiança. Pedro em sua primeira carta afirma “que mediante a fé
estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar
no último tempo” (1Pe 1.5).
O que ele quer dizer é que: O poder de Deus para salvar não depende de nós e de
nossa capacidade de perseverar. A
única condição que temos que cumprir para a salvação é a “fé” e esta condição se mantém constante. Passamos a ser salvos pela fé
e continuamos na salvação pela fé.
Portanto,
temos certeza da salvação e esta não deve ser subtraída quando ensinamos sobre
a possibilidade da apostasia. Por outro lado, também não devemos dar uma
certeza falsa!
2. Existe uma possibilidade real de
apostasia
A obediência futura e a salvação final não estão determinadas nem
certas, posto que, mediante as fraquezas e as multiformes tentações, o crente
corre o perigo de cair[4], pelo que também é mister que vigie e ore, a fim de que não venha a
naufragar na fé e assim pereça.
Segundo
o Manual a salvação final de uma pessoa não está predeterminada. Não é certo que todo o crente perseverará na fé
salvadora. O perigo de cair é real e, consequentemente, como a Bíblia o faz,
cremos que devemos alertar os crentes sobre este perigo. Apostasia significa deixar a Deus ou se desviar dele. Qualquer
pessoa que se perder novamente “apostatou” ou “cometeu apostasia”.
Para
refletirmos sobre algumas afirmações do tipo: Um crente nunca pode cair ou Jesus vai te apresentar a Deus salvo e
seguro, independentemente do que acontecer, vejamos dois textos: 2Pe 1.10 e Cl 1.22-23.
3. A natureza da apostasia é indicada pela expressão naufragar na fé – expressão que aparece em 1 Timóteo 1.19-20.
A
condição da salvação permanece a mesma em Efésios
2.8-9, e se refere tanto ao passado, como o presente e o futuro. Não somos salvos pela fé e em seguida
mantidos pelas obras. Nossas obras nunca alcançam o mérito da salvação. A
salvação sempre é pelo dom gratuito de Deus que se torna nosso quando o
aceitamos pela fé.
Somos salvos
em virtude da nossa união com Cristo e estamos nesta união pela fé (em Cristo). A porta de saída se apoia
na mesma dobradiça que a porta de entrada.
II. Cremos que há base bíblica para esse
ensino – a perseverança dos crentes e a possibilidade de apostasia[5]
Tendo esclarecido nossa doutrina sobre a perseverança dos
crentes afirmada no Manual, voltemos nossa atenção para o que é mais
importante: O que a Bíblia ensina sobre a perseverança dos crentes e a
possibilidade da apostasia.
1. Principias textos que ensinam sobre a
perseverança dos crentes e a apostasia
Não
vamos estudar exaustivamente cada um dos textos citados, mas vamos lê-los e
estudar um deles com o apoio dos outros. 2Pe2.18-22;
1Tm 1.18-20; 2T 2.16-18; Cl 1.21-23; 1Pe 1.5; Gl 5.1-4; 1Co 10.1-14; 1Ts 3.5; Fp
2.16; Gl 4.9-11; Hb 6.4-6; 10.19-39.
2. O texto que vamos tratar é Hebreus 6.1-10
(vv.4-6)
O contexto desta passagem é o livro inteiro de Hebreus
que foi tecido em torno de cinco passagens
de advertência. Cada seção principal do livro contém tais advertências.
ð
Capítulos 1 e 2
– advertência em 2.1-4.
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Capítulos 3 e 4
– advertência em 3.7-4.2.
ð
Capítulos 5-7
– advertência em 5.11-6.12.
ð
Capítulos 8-12
– advertência em 10.26-39 e
12.18-29.
Todas
estas passagens advertem contra o mesmo perigo: “se desviar” (2.1), “se afastar do Deus vivo” (3.12), “cair” (6.6), “recuar, retroceder” (10.38-39) e “rejeitar ao que fala” (12.25).
Este é certamente um dos temas do livro e todas as passagens elucidam 6.4-6.
Analisando
Hb 6.4-6 temos um quadro muito
claro. Ele é composto gramaticalmente de seis cláusulas coordenadas relativas
equivalentes que descrevem certas pessoas que: já uma vez foram iluminados, e provaram o dom
celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram... Quem quer que sejam, todas estas seis coisas fazem
parte de sua experiência. Duas perguntas surgem naturalmente aqui:
1ª) Essas pessoas eram realmente
convertidos? A resposta óbvia é sim. Estando em escuridão espiritual, foram
iluminadas, receberam o dom da vida, possuíam o Espírito Santo, provaram da boa
palavra de Deus e experimentaram as coisas prometidas ao povo de Deus para o
mundo vindouro.
2ª) O que aconteceu com elas? “Caíram”
da presença de Deus, o que é explicado por todas as outras passagens de advertência
resumidas acima. Se desviaram dele (12.25),
se afastaram dele (3.12) – esta última frase traduz literalmente o que
significa apostatar.
A
seriedade da apostasia descrita aqui se encontra nas palavras “... é impossível que... (v.4) ... sejam outra vez renovados
para arrependimento” (v.6). A apostasia contra a qual se
adverte em Hebreus é vista como final.
O apostata não pode se recuperar. Ele é como solo que produziu espinhos e
abrolhos em vez de ervas úteis e é rejeitado, em contraste ao solo que produziu
frutos (vv.7, 8).
Mas,
ainda assim, há aqueles que negam que esta passagem e outras em Hebreus e no
restante do Novo Testamento ensinem a possibilidade de apostasia. Elas geralmente
usam dois argumentos: 1º) Que a citação aqui é hipotética e não apresenta
uma situação real; e 2º) Que as pessoas descritas no texto não eram
realmente convertidas, apesar de terem passado por experiências iniciais do
evangelho sem terem chegado a uma fé verdadeira.
Está
bem claro que o texto não é hipotético pelas referências diretas as pessoas. E,
também, é evidente que as pessoas de quem trata o texto eram verdadeiramente
convertidas pelo fato de não se encontrar uma figura bíblica melhor de uma
pessoa convertida do que as primeiras cinco frases, do total de seis. Então,
fica claro que a apostasia descrita aqui é o abandonar a Deus por
incredulidade. (Cf. Hb 3.12)
III. Cremos e defendemos o ensino
bíblico da perseverança dos crentes e a possibilidade de apostasia[6]
Concluiremos com algumas das lições práticas e pastorais
mais importantes envolvidas na doutrina da perseverança dos crentes e a possibilidade
de apostasia.
1. A segurança da salvação está baseada
na fé em Cristo
É
problemático quando as pessoas não têm certeza de sua salvação. Precisam saber
que a fé salvadora sincera coloca e mantém a pessoa em uma união salvífica com
Cristo. É verdade que a fé genuína se expressa por uma obediência amável e
confiante em Deus (Tg 2.21-26). No
entanto, os crentes precisam entender a diferença entre a condição em si (fé) e a expressão (ou evidência) da fé. Obras de obediência
servem como exemplo do segundo (a expressão da fé) e não do primeiro (a fé em
si). A ligação entre Efésios 2.8-9 e 2.10
é clara e necessária: a salvação não é pelas boas obras, mas para boas obras.
Apesar
disto, o verdadeiro cristão pratica a justiça e não o pecado, como deixa claro 1 João 2.29-3.10. Não podemos dar
segurança de salvação àqueles cujas vidas são caracterizadas por transgressão e
este é o propósito da segunda parte do parágrafo do Capítulo XIII do Manual.
Quando a
evidência contínua da vida de alguém contradiz sua profissão de fé, esta
profissão pode não ser válida. Porém, contanto que o pecado se apresente como
uma exceção (e não a regra), este crente pode ter segurança de que nasceu de Deus.
2. Devemos ser advertidos das coisas que
levam à apostasia – Seguem alguns dos
perigos de que a Bíblia adverte:
a. Falsa doutrina
– incluindo os ensinos das seitas e das igrejas de teologia liberal. As cartas
a Timóteo são bons exemplos disto, especialmente textos como 1Tm 1.3-4; 4.1-6. Precisamos ensinar
cuidadosamente a verdadeira doutrina ao povo e a diferença que ela tem com a
falsa.
b. Brincar com o pecado – não o levar a sério (2Pe 2.20).
Devemos ensinar o temor de Deus e submissão à Sua vontade. Ele tem o direito de
dirigir nossas vidas e não temos o direito de desobedecer. Desobediência
(pecado) é perigoso, pois pode levar a um abandono da fé.
c. Negligência da verdade e da experiência. Veja a pergunta em Hebreus 2.3: Como escaparemos nós, se
não atentarmos para uma tão grande salvação? E
adverte da possibilidade de se desviar (v.1).
O mesmo livro também adverte do perigo de deixar de se congregar com outros
cristãos (10.25) em um contexto em
que se fala de apostasia. Devemos advertir contra a negligência da leitura
bíblica, da oração e da participação aos cultos da igreja. Em outras palavras,
o uso fiel destas ferramentas são meios de santificação, como foi dito no
estudo anterior.
d. Resistência à disciplina. Esta é uma doutrina muitas vezes negligenciada,
porém Hebreus 12.5-11 enfatiza sua
importância. Deus disciplina os filhos a quem ama. Ao fazê-lo, seu propósito é
trazê-los ao arrependimento e restauração à comunhão plena e assim à salvação
final. Se esta disciplina for resistida, o coração se endurece, levando à
obstinação, rebelião voluntária e, finalmente, à apostasia – se voltar contra o
Deus vivo.
3. Devemos enfatizar novamente a
importância do desenvolvimento espiritual
A
Segunda Carta de Pedro nos dá uma boa base bíblica para isto. Nela, Pedro nos
adverte do perigo real da apostasia, por exemplo 2Pe 2.18-22. Porém, sua ênfase é no crescimento na graça como meio
certo para se evitar este perigo. Em 2Pe
1.5-12 ele esboça o caminho para este crescimento, acrescentando à fé
importantes graças da vida cristã e prometendo que aqueles que o fizerem não
serão nem inativos e nem infrutuosos (v.8),
mas entrarão no reino eterno de Jesus (v.11).
Em 2Pe 3.18 ele conclui a carta
dizendo: “crescei na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” e o apresenta como
sendo o antídoto para que “guardai-vos de que, pelo
engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da
vossa firmeza” (v.17).
Concluindo
Nossa doutrina da perseverança dos crentes e da
possibilidade da apostasia nos adverte que:
1) Precisamos ensinar e pregar a necessidade de se vigiar
e ser prudente (Ef 5.15-16), de ajudar uns
aos outros no corpo de Cristo (Hb
3.13; 10.24; 12.12, 13) e de crescer
espiritualmente (2Pe 1.5-10; 3.17-18).
2) Que nossa doutrina nos distingue de todos os cristãos que
negam a possibilidade de apostasia e muitas vezes garantem a salvação daqueles
cujas vidas não demonstram que têm fé salvadora. Ao mesmo tempo, nos distingue
daqueles que ensinam a insegurança da salvação e aparentam dizer que a sua
manutenção é incerta, variando de um dia para o outro, e depende de nossas obras.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 15/05/15
[1] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 8 – O que cremos sobre a Perseverança, p. 2, 3. Neste ponto o estudo
segue a Lição 8, Ponto I – Os Principias Elementos da nossa Doutrina, adaptados
à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas
páginas já citadas.
[2] Romanos 8.38, 39; 1
Coríntios 10.13; 2 Coríntios 12.9; Jó 17.9; Mateus 16.18; João 10.27, 28;
Filipenses 1.6.
[3] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil,
4ª Edição, 2014, Capítulo XIII – A Perseverança dos Crentes, p. 11.
[4] 2 Crônicas 15.2; 2 Pedro
1.10; Ezequiel 33.18; João 15.6; 1 Coríntios 10.12; Hebreus 6.4-6; 12.15; 1
Crônicas 28.9; Apocalipse 2.4; 1 Timóteo 1.19; 2 Pedro 2.20-23; 1 Coríntios
9.27; Mateus 24.13; Atos 1.25; Apocalipse 22.19.
[5] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 8 – O que cremos sobre a Perseverança, p. 3-5. Neste ponto o estudo segue
a Lição 8, Ponto II – A Base Bíblica do Nosso Ponto de Vista, adaptados à nossa
realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas
já citadas.
[6] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 8 – O que cremos sobre a Perseverança, p. 7-9. Neste ponto o estudo segue
a Lição 8, Ponto IV – Lições que Devem Ser Enfatizadas Devido à Nossa Doutrina,
adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei
necessário, nas páginas já citadas.
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