sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Panorama do AT – Deuteronômio (1) Primeira Parte: Recapitulação histórica das obras graciosas de Deus e convocação para obediência em amor à aliança feita pelo Senhor no Sinai.

Deuteronômio 1-34 (1-4)

Nos estudos anteriores, no livro de Números, vimos que:

ü  O livro registra as experiências de duas gerações de israelitas. A primeira geração participou do êxodo para fora do Egito, e a história dela vai de Êx 2.23 até Números 14, quando recusou-se a entrar na Terra Prometida (14.1-10) e foi sentenciada a morrer no deserto por essa rebelião ao seu Deus (14.26-38todos os homens de 20 anos para cima, exceto Josué e Calebe, pereceram no deserto).

ü  Entre os capítulos 15 e 25 as duas gerações se sobrepõem e a primeira se extingue quando a segunda se torna adulta. Assim, com a segunda contagem do povo, começa a história da segunda geração que foi a guerra e herdou a terra – 26.1-56; vv.2, 52-56. A história da segunda geração estende-se pelos livros de Deuteronômio e Josué.

ü  O livro de Números serve ao propósito de demonstrar como Deus age em fidelidade para com a Sua Aliança, apesar da resistência obstinada do povo escolhido. Mostra, também, como Deus usou o deserto para preparar uma geração disposta a confiar Nele e cumprir a Sua vontade em plena dependência.[1]

ü  Números contêm três divisões distintas baseadas na resposta de Israel à Palavra de Deus: 1ª) Obediência – a experiência da primeira geraçãoNm 1-10; 2ª) Desobediência – uma experiência amarga Nm 11-25; e 3ª) Obediência Renovada – a experiência da segunda geração Nm 26-36.[2] São esses os pontos que vamos usar para o nosso estudo do livro.

Hoje, vamos começar o estudo panorâmico no livro de Deuteronômio, fazendo uma breve introdução ao livro e vendo a sua primeira parte.

Introdução ao Livro de Deuteronômio

O título hebraico do livro “estas são as palavras”, provem das duas primeiras palavras hebraicas deste. Já o título em português, vem da Septuaginta e da Vulgata e significa “translado ou cópia desta Lei” com base em Dt 17.18.

O livro é de autoria mosaica e datado de 1405 a.C., mas, concordando Carlos Osvaldo, “com a ressalva de que houve um mínimo de atividade editorial, provavelmente ainda no tempo de Josué (cf. Dt 2.10 e o relato da morte de Moises em Dt 34)”[3].

A forma literária de Deuteronômio, segundo os padrões dos tratados de suserania, é significativa para a determinação da mensagem e a compreensão da teologia no livro e revela que, uma das preocupações de Moisés foi enfatizar o caráter e as ações de Deus, como autoridade suprema, e as responsabilidades de Israel, como servo.[4]

Assim como outros textos de caráter normativo no Pentateuco, Deuteronômio expressa o que Deus requer do seu povo escolhido, e o faz explicando concretamente o mandamento que Jesus qualificou de o principal – Dt 6.5; Mc 12.30. Estas palavras são a coluna vertebral de todo o discurso mosaico, que agora assume um caráter mais pessoal do que quando o povo o ouvia no Sinai.[5]

Deuteronômio registra os acontecimentos sucedidos nas últimas semanas de vida de Moisés: 1) A comunicação verbal da revelação divina por Moisés para o povo (1.1-30.20; 31.30-32.47; 33.1-29); 2) Moisés registrando a Lei num livro (Dt 31.1-13, 19-30); 3) a nomeação de Josué como novo líder do povo (Dt 31.14-18); e 4) a morte de Moisés (Dt 34.5-12).

Ao lado do livro de Salmos e do de Isaías, Deuteronômio fala muito sobre os atributos de Deus e por isso é citado mais de 40 vezes em 17 dos 27 livros do Novo Testamento.  O próprio Senhor Jesus citou este livro ao responder e triunfar sobre o Diabo (Mt 4.1-11) e ao defender sua autoridade messiânica, resumindo e definindo o que é mais importante na Lei (Mt 22.34-40).

Dentre as passagens importantes do livro podemos citar: Dt 5.5-21 – Os Dez Mandamentos; Dt 6.4-9 – O Shema (Ouve, Israel); Dt 13.1-5 – sobre os falsos profetas; Dt 18.9-15 – sobre os adivinhos e feiticeiros; e Dt 29.1-30.20 – a Aliança Palestina.

As divisões naturais do livro estão nos três discursos ou sermões de Moisés. Para nosso estudo panorâmico de Deuteronômio vamos dividir o livro, também, em três partes, seguindo as divisões dos sermões mosaicos: Introdução – 1.1-4; 1º) Primeiro Sermão de Moises1.5-4.43; 2º) Segundo Sermão de Moisés4.44-28.68; 3º) Terceiro Sermão de Moisés29.1-30.20; Conclusão – 31.1-34.12.

I. Introdução e Primeiro Sermão de Moisés – 1.1-4.43

1.    O livro começa com um preâmbulo, o qual apresenta Moisés como o mediador da aliança e as circunstâncias, históricas e geográficas, em que essa mediação acontece[6]1.1-4.

a.    v.3 – Moisés agiu sob a autoridade de Deus, pois as suas palavras estavam conforme a tudo o que o Senhor lhe mandara acerca deles.

b.   v.3 – A expressão “acerca deles” ou “a todo o Israel” “é usada 12 vezes nesse livro e enfatiza a unidade de Israel e a aplicação universal dessas palavras”[7].

c.    Essa introdução fornece, também, o proposito do livro: Preparar Israel para a prosperidade e permanência na Terra Prometida por meio da obediência em amor à aliança com Deus.

2.    Primeiro Sermão de Moisés – 1.4-4.43
Recapitulação histórica das obras graciosas de Deus e convocação para obediência em amor à aliança feita pelo Senhor no Sinai.

a.    A história de Israel, do Sinai até Cades-Barnéia, mostra a desobediência e rebeldia do povo e como isso provocou a ira de Deus – 1.5-46.

b.   A peregrinação de Israel no deserto culmina com a conquista dos amorreus e seus territórios, após a desobediência em que até mesmo Moisés fora punido – 2.1-3.29.

ü A proibição da entrada de Moisés na Terra Prometida é o ápice da disciplina sobre a primeira geração de Israel e abre caminho para Josué e a geração que obedecerá a Deus – 3.21-29.

c.    Na aliança a exigência fundamental para Israel era a obediência completa a Deus frente a idolatria desenfreada que certamente ameaçaria o usufruto da Terra Prometida – 4.1-40.

ü A obediência às exigências da aliança era encorajada com base no caráter de Deus manifestado nos seus atos – vv.1-14.
ü A obediência às exigências da aliança devido à insensatez e à punição da idolatria – vv.15-31.
ü A obediência às exigências da aliança era encorajada em virtude dos privilégios singulares que Israel havia recebido – vv.32-40.

d.   vv.41-43 – Esse primeiro sermão de Moisés foi proferido quando ele separou as cidades de refúgio a leste do Jordão, Bezer, Ramote e Golã.

ConcluindoLições da introdução e primeira parte do livro de Deuteronômio:

1)   Deus, não apenas nos dá mandamentos para seguirmos, ele, explica por que e como vivermos por eles (1.5).
2)   Obediência é um tema predominante aqui e em todo Pentateuco, dada a sua importância na Aliança de Deus com Israel.
3)   Nosso processo redentivo, a iniciativa sempre é divina.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento, Editora Hagnos, Primeira Edição, 2006, p. 121.
[2] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 182.
[3] Pinto, p. 161.
[4] Ibid., p. 163.
[5] Bíblia de Estudo Almeida, SBB, 1999, p. 201.
[6] Pinto, p. 171.
[7] MacArthur, p. 231.

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