Mateus 6.1-18
[1]No Sermão do Monte, capítulo 5 de Mateus, Jesus já
falou sobre o caráter do cristão
pronunciando as bem-aventuranças,
falou sobre a influência do cristão
usando as metáforas “sal da terra e luz do mundo” e falou sobre a justiça do cristão fazendo aplicações da
Lei de Deus resgatando o seu sentido original e a sua profundidade real.
Agora,
no capítulo 6, ele continua falando sobre a justiça do cristão, mas numa outra
área da vida, que vou chamar de a
piedade do cristão.
Se
compararmos o que Jesus ensina no capítulo 5 com o que ensina no capítulo 6
veremos que em Mateus 5 ele fala de justiça moral relacionada com
bondade, pureza, honestidade e amor. E em Mateus 6 fala de justiça
religiosa relacionada a esmola, oração e jejum.
Nos
estudos anteriores vimos que os fariseus, distorcendo a Lei, enfatizavam os
procedimentos externos e aparentes em detrimento dos verdadeiros sentimentos e
intenções do coração. Jesus, ao contrário, dizia que a observância da Lei deve
começar no coração. Esmolas, oração e jejum não têm valor quando praticados
externamente apenas, com a intenção hipócrita de parecer mais religioso ou
piedoso do que realmente é.
Jesus
advertiu: “Guardai-vos de exercer a
vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles...”
(Mt 6.1). À primeira vista, essa advertência de Jesus pode parecer
contraditória com o que ele disse antes: “Vós
sois a luz do mundo... Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras...” (5.14, 16). Mas não há contradição. Em Mt 6.1, o que Jesus condena é a prática de boas obras, morais ou religiosas, com
a intenção de se exibir, de parecer o que não é e receber elogios por isso.
Mas em Mt 5.14-16, ele ensina que as verdadeiras boas obras, tão
naturais, espontâneas e visíveis como a luz, glorificam a Deus, não aos que as
praticam (Mt 5.16b).
Hoje,
vamos examinar três exemplos dados por Jesus.
1. A esmola do cristão – vv.2-4
Jesus
esperava que seus discípulos fossem doadores generosos, mas os advertia contra
as motivações egoístas e exibicionistas. No caso das esmolas ou ofertas, o
importante não é o que a mão está fazendo, mas o que o coração está pensando
enquanto isso. Três possibilidades: (a)
desejo de aparecer e receber louvor das
pessoas; (b) desejo de sentir-se bem consigo mesmo; (c) desejo
de agradar a Deus e ser aprovado por ele.
Os
fariseus buscavam o louvor dos homens. Razão porque Jesus os chamou de hipócritas, termo grego significa ator. É
fácil condenar os fariseus mas, é difícil reconhecer que nós também, muitas
vezes, gostamos de aparecer ou de contar aos outros a ajuda que damos aos
necessitados ou as ofertas que damos na igreja, e isto com a intenção de
receber elogios. Referindo-se aos fariseus, Jesus acrescentou: “... eles já receberam a sua recompensa” (v.2). Se o que buscavam era a admiração
e os elogios dos homens, já os tinham. Sempre há os que se impressionam com as
representações dos atores que enchem os palcos da sociedade e das igrejas.
Então, qual é a maneira cristã e sincera
de dar esmolas ou fazer ofertas?
Jesus
responde no v.3 – não toque trombeta, não alardeie; não busque
a glorificação dos outros; e não fique pensando no que fez e se achando o máximo;
isto é autoglorificação. Jesus disse ainda: “Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (v.4). Não os homens, mas Deus, ao seu modo. Há também a alegria de ver
o contentamento e alívio do necessitado ou da igreja a quem se fez a doação.
2. A oração
do cristão – vv.5-15
Jesus disse que os hipócritas “... se comprazem
em orar” (v.5a), isto é, “eles gostavam de orar”. Mas, gostavam de
orar em lugares públicos “para serem vistos pelos homens” (v.5b).
A mesma intenção de se exibir, de parecer piedoso e ser admirado.
Essa hipocrisia ainda ocorre em nossos dias. Precisamos examinar nossos motivos
mais íntimos.
A orientação de Jesus no v.6 não significa que só podemos
orar no quarto com a porta fechada. Ele mesmo e os apóstolos oravam a sós e
também com outras pessoas, em lugares públicos. Aqui, o Senhor, também está
falando da motivação: o desejo sincero de
falar com Deus. Fechar a porta
pode ser um equivalente ao fechar os olhos e concentrar-se somente em Deus. De
novo Jesus contrasta as recompensas: os que
oram para serem vistos e admirados pelos homens só recebem isto; os que falam
com Deus, de verdade, têm resposta às suas orações (v.6; cf. SL 66.18-20).
3. O jejum do cristão – vv.16-18.
Jejum
é abstenção total ou parcial de alimento durante períodos de tempo curtos ou
mais longos. Os judeus jejuavam duas vezes
por semana (cf. Lc 18.12). João
Batista e seus discípulos jejuavam regularmente. Antes de iniciar seu
ministério terreno, Jesus jejuou (Mt 4.1-2),
mas os discípulos de Jesus não jejuavam, quando com Jesus (cf. Mt 9.14; Lc 5.33). Os apóstolos, mais
tarde, jejuaram (cf. At 13.2-3).
Na
Bíblia, o jejum relaciona-se com a auto-humilhação, arrependimento, confissão, autodisciplina
e oração (cf. Sl 35.13; Is 58.3, 5; Ne
9.1-2; Jn 3.5; Dn 9.2ss; At 9.9). Jejum e oração eram praticados, tanto no
NT quanto no AT, em situações especiais de maior necessidade, visando bênçãos especiais
(Ef 4.16; At 13.1-3). O problema com os fariseus, referido nesta passagem do
Sermão do Monte, era, mais uma vez, a hipocrisia, a intenção de parecer aos homens que jejuavam (v.16). E de novo Jesus menciona a
recompensa humana que buscavam e a recompensa ou bênção de Deus pelo jejum espontâneo
e sincero (vv.16b, 18b).
Concluindo
A
orientação do v.17 não implica em
nada especial, fora do comum, mas apenas a naturalidade, que não tem nenhuma
intenção de fingir espiritualidade.
[1] Esse estudo segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A
Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997,
preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001, com algumas
adaptações minhas.
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