domingo, 1 de junho de 2014

Piedade Cristã – Sem hipocrisia, para ser vista e recompensada por Deus.

Mateus 6.1-18

[1]No Sermão do Monte, capítulo 5 de Mateus, Jesus já falou sobre o caráter do cristão pronunciando as bem-aventuranças, falou sobre a influência do cristão usando as metáforas “sal da terra e luz do mundo” e falou sobre a justiça do cristão fazendo aplicações da Lei de Deus resgatando o seu sentido original e a sua profundidade real.

Agora, no capítulo 6, ele continua falando sobre a justiça do cristão, mas numa outra área da vida, que vou chamar de a piedade do cristão.

Se compararmos o que Jesus ensina no capítulo 5 com o que ensina no capítulo 6 veremos que em Mateus 5 ele fala de justiça moral relacionada com bondade, pureza, honestidade e amor. E em Mateus 6 fala de justiça religiosa relacionada a esmola, oração e jejum.

Nos estudos anteriores vimos que os fariseus, distorcendo a Lei, enfatizavam os procedimentos externos e aparentes em detrimento dos verdadeiros sentimentos e intenções do coração. Jesus, ao contrário, dizia que a observância da Lei deve começar no coração. Esmolas, oração e jejum não têm valor quando praticados externamente apenas, com a intenção hipócrita de parecer mais religioso ou piedoso do que realmente é.

Jesus advertiu: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles...” (Mt 6.1). À primeira vista, essa advertência de Jesus pode parecer contraditória com o que ele disse antes: “Vós sois a luz do mundo... Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras...” (5.14, 16). Mas não há contradição. Em Mt 6.1, o que Jesus condena é a prática de boas obras, morais ou religiosas, com a intenção de se exibir, de parecer o que não é e receber elogios por isso. Mas em Mt 5.14-16, ele ensina que as verdadeiras boas obras, tão naturais, espontâneas e visíveis como a luz, glorificam a Deus, não aos que as praticam (Mt 5.16b).

Hoje, vamos examinar três exemplos dados por Jesus.

1. A esmola do cristão – vv.2-4

Jesus esperava que seus discípulos fossem doadores generosos, mas os advertia contra as motivações egoístas e exibicionistas. No caso das esmolas ou ofertas, o importante não é o que a mão está fazendo, mas o que o coração está pensando enquanto isso. Três possibilidades: (a) desejo de aparecer e receber louvor das pessoas; (b) desejo de sentir-se bem consigo mesmo; (c) desejo de agradar a Deus e ser aprovado por ele.

Os fariseus buscavam o louvor dos homens. Razão porque Jesus os chamou de hipócritas, termo grego significa ator. É fácil condenar os fariseus mas, é difícil reconhecer que nós também, muitas vezes, gostamos de aparecer ou de contar aos outros a ajuda que damos aos necessitados ou as ofertas que damos na igreja, e isto com a intenção de receber elogios. Referindo-se aos fariseus, Jesus acrescentou: “... eles já receberam a sua recompensa” (v.2). Se o que buscavam era a admiração e os elogios dos homens, já os tinham. Sempre há os que se impressionam com as representações dos atores que enchem os palcos da sociedade e das igrejas.

Então, qual é a maneira cristã e sincera de dar esmolas ou fazer ofertas?

Jesus responde no v.3não toque trombeta, não alardeie; não busque a glorificação dos outros; e não fique pensando no que fez e se achando o máximo; isto é autoglorificação. Jesus disse ainda: “Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (v.4). Não os homens, mas Deus, ao seu modo. Há também a alegria de ver o contentamento e alívio do necessitado ou da igreja a quem se fez a doação.

2. A oração do cristão – vv.5-15

Jesus disse que os hipócritas “... se comprazem em orar (v.5a), isto é, “eles gostavam de orar”. Mas, gostavam de orar em lugares públicos “para serem vistos pelos homens” (v.5b). A mesma intenção de se exibir, de parecer piedoso e ser admirado. Essa hipocrisia ainda ocorre em nossos dias. Precisamos examinar nossos motivos mais íntimos.

A orientação de Jesus no v.6 não significa que só podemos orar no quarto com a porta fechada. Ele mesmo e os apóstolos oravam a sós e também com outras pessoas, em lugares públicos. Aqui, o Senhor, também está falando da motivação: o desejo sincero de falar com Deus. Fechar a porta pode ser um equivalente ao fechar os olhos e concentrar-se somente em Deus. De novo Jesus contrasta as recompensas: os que oram para serem vistos e admirados pelos homens só recebem isto; os que falam com Deus, de verdade, têm resposta às suas orações (v.6; cf. SL 66.18-20).

3. O jejum do cristão – vv.16-18.

Jejum é abstenção total ou parcial de alimento durante períodos de tempo curtos ou mais longos. Os judeus jejuavam duas vezes por semana (cf. Lc 18.12). João Batista e seus discípulos jejuavam regularmente. Antes de iniciar seu ministério terreno, Jesus jejuou (Mt 4.1-2), mas os discípulos de Jesus não jejuavam, quando com Jesus (cf. Mt 9.14; Lc 5.33). Os apóstolos, mais tarde, jejuaram (cf. At 13.2-3).

Na Bíblia, o jejum relaciona-se com a auto-humilhação, arrependimento, confissão, autodisciplina e oração (cf. Sl 35.13; Is 58.3, 5; Ne 9.1-2; Jn 3.5; Dn 9.2ss; At 9.9). Jejum e oração eram praticados, tanto no NT quanto no AT, em situações especiais de maior necessidade, visando bênçãos especiais (Ef 4.16; At 13.1-3). O problema com os fariseus, referido nesta passagem do Sermão do Monte, era, mais uma vez, a hipocrisia, a intenção de parecer aos homens que jejuavam (v.16). E de novo Jesus menciona a recompensa humana que buscavam e a recompensa ou bênção de Deus pelo jejum espontâneo e sincero (vv.16b, 18b).

Concluindo

A orientação do v.17 não implica em nada especial, fora do comum, mas apenas a naturalidade, que não tem nenhuma intenção de fingir espiritualidade.



[1] Esse estudo segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001, com algumas adaptações minhas.

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