Em
nosso estudo anterior, comparamos o que Jesus ensina no capítulo 5 com o que
ensina no capítulo 6 e vimos que em Mateus
5 ele fala de justiça moral relacionada
com bondade, pureza, honestidade e amor,
e em Mateus 6 fala de justiça religiosa relacionada a esmola,
oração e jejum.
Vimos,
também, que em Mt 6.1, o que Jesus condena é a prática de boas
obras, morais ou religiosas, com a intenção de se exibir, de parecer o que não é
e receber elogios por isso. E que em Mt
5.14-16, ele ensina que as
verdadeiras boas obras, tão naturais, espontâneas e visíveis como a luz,
glorificam a Deus, não aos que as praticam.
Em
Mateus 6.1-18 Jesus trata da vida
particular do cristão e suas praticas
religiosas: doações, orações e jejuns. Hoje, vamos ver Mateus 6.19-34 que trata da vida
pública do cristão em relação a questões seculares – valores, prioridades,
serviço e preocupações.
[1]A distinção entre o que é
religioso e o que é secular é didática. Na prática, não
podemos separar estas duas esferas da vida. Se somos cristãos, tudo o que
fazemos, por mais secular que pareça, é religioso ou espiritual, feito para a
glória de Deus (Cl 3.23-24). Nesta
parte do Sermão do Monte, Jesus mostra isto: Deus está igualmente preocupado com as duas áreas da nossa vida: a
particular e a pública; a religiosa e a secular. Em ambas, precisamos ser
diferentes: da hipocrisia religiosa dos
fariseus (vv.1-18) e do materialismo secular dos gentios (vv.19-34).
Jesus, outra vez, coloca diante dos seus
discípulos alternativas contrastantes: 1)
Dois tesouros – na terra e no céu – vv.19-21;
2) Duas condições físicas – luz e trevas
– vv.22-23;
3) Dois senhores – Deus e as
riquezas – v.24; e 4) duas
preocupações – nosso corpo e o reino de Deus – vv.35-34.
Mas como fazer a escolha? A ambição do mundo nos
fascina. O encanto do materialismo é difícil de quebrar. Aqui, Jesus nos ajuda
a escolher o melhor. Ele destaca a
insensatez do caminho errado e a sabedoria do caminho certo.
1. Dois tesouros (vv.19-21)
Observar:
a. O que
Jesus não proibiu: (a) a propriedade particular
(ver Gn 13.2); (b) a poupança para o futuro (ver Pv 6.6-7); (c) o desfrutar das coisas que Deus nos dá (ver 1Tm 6.17).
b. O que Jesus proibiu? (a) o
acúmulo exagerado de dinheiro e bens; (b) o consumismo exagerado, materialista; (c) a vida extravagante e luxuosa (ver Lc 12.15).
Como ajuntar tesouros no céu? Fazendo coisas cujos efeitos se perpetuam
além da morte, por toda a eternidade. Isto não significa que Jesus estava
ensinando uma doutrina de méritos, como se pudéssemos acumular no céu, através
de boas obras praticadas na terra, uma espécie de crédito bancário. Tal noção
contradiz o evangelho da graça que Jesus e seus apóstolos ensinaram. E, de
qualquer modo, Jesus estava falando a discípulos que já estavam salvos.
Note também o que Jesus disse sobre a durabilidade
das riquezas: as da terra são
temporais, as do céu são eternas. (cf.: Jó 1.21; 2Co 4.18; Cl 3.2)
Então, o que, especificamente podemos
fazer para ajuntar tesouros no céu?
a) Desenvolver um caráter
semelhante ao de Cristo; b) Crescer na fé, na esperança e no amor, posto
que estas virtudes, como escreveu o apóstolo Paulo, “permanecem...” (1Co
13.13); c) Crescer no conhecimento de Cristo, com quem estaremos no céu,
eternamente; d) Falar de Cristo com outras pessoas de modo
que também possam estar conosco no céu; e) Investir dinheiro nas
causas cristãs (dízimos e ofertas). Este
é o único investimento financeiro cujos dividendos são eternos.
2. Duas
condições físicas – vv.22-23
Jesus passa da durabilidade dos dois tesouros
para o benefício relativo de duas condições. O contraste agora é entre uma
pessoa cega e uma pessoa que tem visão e, consequentemente, entre as trevas e a
luz em que elas respectivamente vivem. “Os olhos são a lâmpada do corpo...” O
corpo depende da visão... para andar, correr, ler, cozinhar... O olho “ilumina”
o que o corpo faz com as mãos e os pés. “Se os teus olhos forem bons, todo o
teu corpo será luminoso”. Com frequência, na Bíblia, olho é
equivalente a coração. “Fixar os olhos” em alguma coisa é equivalente a
“colocar o coração” (Sl 66.18). Então, Jesus está falando da importância de se
fixar os olhos ou pôr o coração na coisa certa (v.21). Se os colocamos nas
coisas erradas, ficamos intolerantes, egoístas, desumanos, e perdemos o
verdadeiro propósito da vida (1Ts 6.9-10).
3. Dois senhores – v.24
Depois
da escolha entre dois tesouros (onde ajuntá-los) e duas visões (onde fixar os
olhos), temos ainda que escolher entre dois
senhores (a quem servir).
Trata-se de uma escolha entre Deus e as riquezas. Muitos se recusam a fazer
esta escolha; acham possível servir a ambos. Acabam servindo a Deus com os
lábios, às riquezas com o coração; ou a Deus na aparência, às riquezas na realidade.
Outros servem a Deus com a metade do seu tempo, às riquezas com a outra metade.
Mas é justamente esta solução popular de comprometimento dividido que Jesus
condena. (ver Js 24.15, 24)
Devoção
e serviço exclusivos a Deus e a Cristo não significam passar todo o tempo lendo
a Bíblia, orando, adorando ou pregando. Porém, quando a intenção é ajuntar tesouros
no céu, quando os olhos (e o coração) estão fixos nas coisas de Deus, tudo o
que fazemos é para Deus, para a sua glória (1Co 10.31).
Perguntaram
a um cristão: O que o Senhor faz da vida? Qual é a sua profissão? Ele respondeu: Eu sirvo a Deus. Querem
saber como eu faço isto? Como médico.
4. Duas preocupações – vv.25-34
A
frase inicial “Por isso...”
relaciona o que segue com as escolhas referidas nos parágrafos anteriores. Se
escolhemos o céu, a luz e Deus, então, não precisamos ficar ansiosos,
preocupados com a subsistência: água, comida, roupa. Deus sabe que precisamos
disso. Mas, buscai primeiro o reino de
Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. (v.33)
Não tudo o que queremos, mas o necessário. (Tg 1.17; Fp 4.11).
Concluindo
Depois
de escolher entre os dois tesouros (onde ajuntá-los), as duas
visões (onde fixar os olhos), os dois senhores (a quem servir) e; as duas
preocupações (como viver) nos resta a recomendação de Jesus: Não vos inquieteis, pois, pelo dia de
amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (v.34)
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira – 06/06/14
[1] Esse estudo segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A
Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997,
preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001, com algumas
adaptações minhas.
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