Tito 1.1-9
Quando
fui convidado para pregar aqui na igreja, a primeira coisa que me veio a
mente foi a carta de Paulo a Tito, por três razões importantes:
Primeira – Tito é uma carta pastoral que traz ensinos
significativos para a ação pastoral em todos os tempos;
Segunda – Tito é um manual bíblico para a organização
de igrejas saudáveis;
Terceira – Tito é uma carta que faz uma ligação prática
entre a sã doutrina e a ética.[1]
Além
disso, ela trata de vários temas fundamentais para a igreja. Esses temas são os
seguintes:
A organização das
Igrejas – 1.5;
A liderança das
Igrejas – 1.6-9;
O combate aos
falsos mestres e às falsas doutrinas – 1.10-16;
O ensino da sã
doutrina – 2.1;
A promoção da
ética cristã – 2.2-10;
A prática das
boas obras – 2.11-14 (3.8, 14);
A submissão às
autoridades – 3.1-11;
O
escritor e expositor John Stott observa que a carta a Tito “relaciona-se com os
três principais contextos em que se dá a vida cristã, ou seja, a igreja, o lar
e o mundo”.[2]
Por isso ele propõe a seguinte divisão da carta:
Capítulo 1 – A
doutrina e o dever na Igreja;
Capítulo 2 – A
doutrina e o dever no lar;
Capítulo 3 – A
doutrina e o dever no mundo.
Para
Hernandes Dias Lopes, a carta de Paulo a Tito expõe de maneira eloquente o
binômio: ortodoxia e piedade; teologia e ética; doutrina e dever. No capítulo
1, Paulo aborda esse binômio em relação à igreja; no capítulo 2, em relação à
família e; no capítulo 3, em relação ao mundo.[3]
Na
introdução a carta, nos versículos de 1 a 3, temos em palavras concisas, a mais
completa descrição do serviço apostólico, como Paulo o compreendia e praticava.[4]
Na
verdade, na introdução a carta, Paulo, parece nos provar duas coisas
importantes:
Primeira – a legitimidade de sua autoria – Paulo se
apresenta como o autor dessa epístola.
Segunda – a amplitude dos destinatários – A carta
não foi dirigida apenas a Tito, mas a toda a igreja cretense.
Paulo
termina a introdução da carta com a sua saudação costumeira, “a
Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e
de Cristo Jesus, nosso Salvador.” (v.4)
Agora,
dos versículos 5 a 9, Paulo instrui a Tito sobre a liderança saudável que ele
deveria constituir nas igrejas. Ele começa falando sobre a necessidade de
presbíteros para as igrejas.
v.5 – Por esta causa, te deixei em
Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada
cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:
Temos
aqui, três importantes informações sobre como Tito tinha que proceder:
Primeira – Tito foi deixado por Paulo em Creta – Por esta causa, te deixei em Creta... (v.5a)
– “Creta era uma ilha que ficava a sudoeste da Grécia, entre os mares Egeu e
Mediterrâneo, tendo 240km de extensão por 48km de largura. Era conhecida como a
‘ilha das cem cidades’.”[5] Nessa
ilha havia igrejas cristãs.
Segunda –
Tito foi deixado por Paulo em Creta para por em ordem coisas restantes –... para que pusesses em ordem as coisas
restantes,... (v.5b) – possivelmente assuntos administrativos e a
preparação de presbíteros para as igrejas.
Terceira –
Tito tinha a responsabilidade de constituir presbíteros para as igrejas locais
da Grécia, que estavam sem liderança espiritual saudável – ... bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te
prescrevi: (v.5c).
A
prescrição que Paulo dá a Tito para os presbíteros ou bispos, os pastores de
hoje, para serem líderes responsáveis e saudáveis para as igrejas locais, é a
irrepreensibilidade em três áreas distintas:
Primeira área
– o pastor precisa ser irrepreensível
como líder de sua família;
Segunda área
– o pastor precisa ser irrepreensível
como despenseiro de Deus;
Terceira área
– o pastor precisa ser irrepreensível
como mestre da Palavra.
A
palavra grega usada pelo apóstolo aqui para irrepreensível é anenkletos, que significa “sem culpa, não passível de acusação”. O
presbítero (pastor) não pode deixar flancos abertos na sua vida nem ter brechas
no seu escudo moral. Seu ofício é público e sua reputação pública precisa ser
inquestionável.[6]
John Stott disse que “isso não quer dizer que os candidatos teriam que ser
totalmente isentos de falhas e defeitos, pois nesse caso todos seriam
desqualificados”.[7]
Assim, então,
vejamos as três áreas em que os pastores das igrejas locais, segundo Paulo,
precisam ser irrepreensíveis!
I. Primeira área de irrepreensibilidade:
O pastor
precisa ser irrepreensível como líder de sua família.
... alguém
que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha
filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são
insubordinados. (v.6)
O
pastor precisa ser irrepreensível em dois pontos vitais dentro de sua família:
1. Ele deve ser irrepreensível como marido – ... marido de uma só mulher... (v.6a) – integridade na conduta
conjugal.
2. Ele deve ser irrepreensível como pai – ... que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são
insubordinados. Ser líder espiritual da família e criar os filhos na
disciplina e admoestação do Senhor.
II. Segunda área de irrepreensibilidade:
O pastor
precisa ser irrepreensível como despenseiro de Deus.
Aqui Paulo aborda o assunto sob duas perspectivas: 1ª)
o que o pastor não deve ser e; 2ª) o que o pastor deve ser.
7Porque é indispensável que o bispo seja
irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado
ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; 8antes, hospitaleiro, amigo do bem,
sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,... (v.7,8)
1. Primeiro, o pastor deve
ser conhecido pelo que ele não é – v.7.
Paulo apresenta cinco termos negativos, que se
relacionam com cinco áreas de grande tentação, ou seja:
a.
O pastor não
deve ser arrogante – literalmente “satisfazer a si mesmo”, um homem
egocentrista;
b.
O pastor não
deve ser irascível – literalmente alguém que se ira facilmente ou que
guarda mágoas e ressentimentos em seu coração;
c.
O pastor não
deve ser dado ao vinho – literalmente “ser indulgente com o vinho”,
dependente da bebida;
d.
O pastor não
deve ser violento – literalmente “golpeador”, violência tanto verbal
como física;
e.
O pastor não
deve ser cobiçoso de torpe ganância – literalmente “alguém que não se
importa com os meios que utiliza para ganhar dinheiro”, ou seja, alguém defensor
da ética jesuíta de que os fins justificam os meios.
2. Segundo, o pastor deve
ser conhecido pelo que ele faz – v.8.
Aqui temos virtudes que se agrupam em duas
qualidades: em relação as outras
pessoas e em relação a si mesmo.
a. Qualidades que deve ter em relação as outras pessoas:
O pastor deve ser
hospitaleiro – literalmente “alguém amigos de pessoas que conhece e que
não conhece”.
O pastor deve ser
amigo
do bem – literalmente “amigo do bem, das coisas boas e das pessoas boas”.
b. Qualidades que deve ter em relação a si mesmo:
O pastor deve ser
sóbrio
– literalmente “descreve um homem que tem domínio completo sobre suas
paixões e desejos, o que o impede de ir além do que a lei e a razão lhe
permitem e aprovam”.
O pastor deve ser
justo – literalmente “descreve um homem que concede a Deus e aos homens
o que lhes é devido”.
O pastor deve ser
piedoso
– literalmente “descreve o homem que reverencia a decência fundamental da
vida”.
O pasto deve ter domínio
próprio – literalmente “dono de si mesmo”, um homem que tem completo
autocontrole.
III. Terceira
área de irrepreensibilidade:
O pastor
precisa ser irrepreensível como mestre da Palavra.
... apegado
à palavra fiel, que é segundo a doutrina,
de modo que
tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino
como para
convencer os que o contradizem. (v.9)
Paulo
menciona aqui três qualidades importantes:
1. O pastor precisa demonstrar fidelidade doutrinária – ... apegado à palavra fiel, que é segundo a
doutrina... (v.9a).
2. O pastor precisa demonstrar capacidade para o ensino – ... de modo que tenha poder tanto para exortar
pelo reto ensino... (v.9b)
3. O pastor precisa demonstrar habilidade na apologética – ... como para convencer os que o contradizem.
(v.9c).
Conclusão
Paulo
deixa claro, assim, que a marca da liderança saudável e espiritual da Igreja de
Cristo na vida de um pastor é a irrepreensibilidade dele como líder de sua família, como
despenseiro de Deus e como mestre da
Palavra.
Qual deve ser a atitude da igreja em relação a
um ministério pastoral assim? Cuidado,
respeito, obediência, amor e sustento digno de sua família!
[1] Arival Dias Casimiro – Estudos Expositivos em 1 e 2
Tessalonicenses e Tito – SOCEP – p. 51.
[2] Ibid.: p. 51.
[3] Hernandes Dias Lopes – Comentário Expositivo Hagnos –
Tito e Filemom – p. 47.
[4] Ibid.: p. 31.
[5]
Arival Dias Casimiro – Estudos Expositivos em 1
e 2 Tessalonicenses e Tito – SOCEP – p. 53.
[6]
Hernandes Dias Lopes – Comentário Expositivo
Hagnos – Tito e Filemom – p. 51.
[7]
Ibid.: p. 51.
Ótimo texto!
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