Em
nosso estudo anterior: O que cremos sobre
o Dízimo e o Ministério da Igreja, vimos o assunto em dois pontos: 1º) Cremos no Dízimo; e 2º) Cremos no Ministério
da Igreja.
Terminamos
fazendo duas considerações breves sobre como essas doutrinas nos distinguem de
pelo menos dois tipos de igrejas: 1)
daquelas que desprezam um ministério
remunerado – nós cremos que é dever da igreja sustentar aqueles que a servem e
definir um plano para este sustento; e 2)
daquelas que têm uma ideia hierárquica do
ministério, baseado em um clero que obtém sua autoridade pela sucessão e a
impõem ao povo simples da igreja.
Hoje,
em nosso estudo da Fé Batista Livre, vamos ver O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja que está no Capítulo XVIII do Manual de Fé dos Batistas
Livres do Brasil. Vamos fazer isso em três pontos: 1º) Cremos no Batismo cristão; e
2º) Cremos na Ceia do Senhor; e 3º) Cremos no Lavar dos pés dos santos.
Quando
se lida com as doutrinas representativas de uma denominação, um dos assuntos
que certamente surgirá será com respeito às ordenanças
da igreja. Por ordenança queremos
dizer todo tipo de prática externa que é simbólica de uma verdade do evangelho.
Naturalmente incluímos também como parte de nossa definição o fato de uma
ordenança ser algo que o próprio Senhor estabeleceu para que o praticássemos.[1]
Portanto,
uma ordenança é uma prática externa
estabelecida pelo Senhor Jesus para ensinar verdades espirituais básicas do
evangelho e que deve ser observada perpetuamente pela igreja.[2]
Os
batistas livres creem e ensinam que há três ordenanças que devem ser praticadas
como parte da vida da igreja local: O
Batismo, a Ceia do Senhor e o Lavar dos pés.
Consiste na imersão dos
crentes em água, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo[4], que representa o
sepultamento e a ressurreição de Cristo, a morte dos crentes para o mundo, a
lavagem das contaminações do pecado de suas almas, sua ressurreição para
andarem em novidade de vida, seu compromisso com o serviço de Deus, e sua
ressurreição no último dia[5].[6]
Essa
ordenança tem um propósito duplo: 1º)
Ela ensina uma verdade do evangelho de Jesus – a morte, sepultamento e
ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Estes três eventos estão no âmago do
evangelho cristão (1Co 15.1-4) e; 2º) Ela é, também, um testemunho de que
estamos nos identificando com Ele na morte, sepultamento e ressurreição, é a nossa
confissão de fé. Em Romanos 6.3-4
não diz apenas que Jesus morreu, mas que também nós fomos batizados em sua
morte; não apenas que Cristo ressurgiu dos mortos, mas que nós também devemos
andar em novidade de vida.
Portanto,
a Bíblia vê o batismo não apenas como um ensino sobre a obra de redenção de
Cristo, mas também como um testemunho de que morremos com Ele e ressurgimos com
Ele para andar em novidade de vida. Batismo é o nosso testemunho de que a
pessoa que éramos (“o velho homem”) morreu e fomos restaurados à vida como
novas pessoas (“o novo homem”), como nos mostra Romanos 6.5-10. Este é o significado do batismo cristão. Colossenses 3.1-2 expressa bem o
resultado disto.
Então,
o batismo ilustrar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus – 1Coríntios 15.3, 4, identifica minha
nova vida com Cristo – 2Coríntios 5.17
e mostra minha identificação com Cristo – Romanos
6.4.
Foi
o próprio Senhor Jesus quem instituiu o batismo como uma das partes centrais da
missão da igreja na evangelização do mundo – Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 15. Por isso cremos e ensinamos sobre o
batismo: Para seguir o exemplo de Jesus
– Mateus 3.13; Por que Jesus Cristo ordenou – Mateus
28.19, 20; Para seguir o exemplo dos
primeiros cristãos – Atos 2.37, 38;
Para testemunho do que Jesus fez em nossa
vida – 1 João 2.3.
As
epístolas de Paulo e dos outros apóstolos também demonstram que a igreja
primitiva entendia que Jesus queria que se praticasse o batismo onde quer que
fossem – e eles o praticaram fielmente. Um exemplo disto é 1Coríntios 1.13-15, porém há muitos outros.
Cremos
que o modo bíblico de se batizar os novos crentes em no nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo é a imersão, porque somente a imersão do corpo na água,
poderia simbolizar a nossa morte e sepultamento com Cristo e a nossa ressurreição
com Ele para uma nova vida – Romanos 6.4.
Por isso, cremos que o batismo na Bíblia era feito por imersão (Atos 8.38, 39) porque a imersão é a
melhor maneira de simbolizar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus
Cristo.
É
importante, também, esclarecer que cremos em um batismo que é limitado àqueles
que têm idade suficiente para fazerem uma confissão de fé consciente. Isto se
chama batismo de crentes ou batismo dos
que creem. Não praticamos batismo de infantes (recém-nascidos), já que estes
não têm idade para fazer profissão de fé. Assim, batizamos somente aqueles que receberam a Jesus como Salvador e
Senhor de suas vidas – Atos 2.41; 8.12;
João 1.12. Somente aqueles que querem obedecer a Jesus e que creem de todo o coração – Atos 8.36-38.
Consiste na comemoração da
morte de Cristo pelos nossos pecados, mediante o uso de pão, que Ele escolheu
como símbolo de seu corpo quebrantado, e mediante o uso do cálice, símbolo do
seu sangue derramado[8], através da qual os
crentes expressam seu amor, sua fé, esperança e fidelidade perpétua[9] a Cristo.[10]
Cremos
que, assim como o batismo, a Ceia do Senhor foi instituída pelo Senhor Jesus. Todos
os Evangelhos Sinóticos relatam que o Senhor Jesus, na noite anterior à Sua
morte, deu início à prática da Ceia do Senhor e ordenou que Seus discípulos
seguissem esta prática. (Cf. Mt
26.26-28; Mc 14.22-25; Lc 22.17-20). Em 1Co 11.23-26, Paulo, relembra o acontecimento original e deixa
claro que, tanto foi o próprio Senhor Jesus que iniciou a prática como também
que tinha a intenção de que seus discípulos o praticassem.
Em
1 Coríntios 11 onde, Paulo, cita as
palavras do Senhor Jesus dizendo com respeito ao pão: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em
memória de mim. (v.24) E com relação ao
cálice, dizendo: Este cálice é o novo
testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória
de mim. (v.25) Fica claro que, o pão partido que
se ingere na Ceia do Senhor e o fruto da vide que se bebe são símbolos do corpo
e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.
Essa ordenança também tem um duplo propósito:
1º) Ensinar uma verdade importante do
evangelho: a verdade da morte de Cristo
manifesta no quebrantar do seu corpo e no seu sangue vertido na cruz pelos
nossos pecados (1Co 11.24, 25); 2º) Dar
testemunho ao mundo de que experimentamos os resultados da morte de Cristo
protagonizados pelos símbolos do Seu corpo e sangue (1Co 11.26). Portanto, a observância da Ceia do Senhor é como um
sermão encenado da morte redentora de Cristo na cruz.
Em
1 Coríntios 10.16 a palavra comunhão significa participar e ter um
relacionamento. Paulo está dizendo que ao comermos e bebermos estamos
representando a nossa participação pessoal nos benefícios da expiação. Pode-se
referir à Ceia do Senhor como Comunhão.
Seu corpo foi quebrado e Seu sangue vertido por nós, para que tenhamos nossos
pecados cobertos por este sangue.
Cremos
que a participação na Ceia do Senhor traz edificação e fortalecimento. No
entanto, é porque os símbolos servem para nos relembrar da maravilhosa verdade
do evangelho. Toda vez que somos levados a relembrar da verdade do evangelho
pelo qual fomos salvos, seremos fortalecidos e edificados em nossa vida cristã.
Resumindo:
1)
A Ceia do
Senhor é uma ordenança bem simples – 1Co 11.23; é uma lembrança da morte de Jesus – 1Co 11.24, 25; é um anuncio – 1Co 11.26; o pão simboliza
o corpo de Cristo – Mt 26.26; O suco de uva simboliza o sangue de Cristo – 1Co11.24;
e também é um testemunho da
nossa fé – 1Co 11.26.
2)
Eu devo
celebrar e participar da Ceia do Senhor porque ela é um memorial do Senhor – Lc
22.19; para ser obediente ao
meu Salvador – 1Co 11.24-26; e para
seguir o exemplo das igrejas do
Novo Testamento – 1Co 11.23.
3)
A participação na Ceia do Senhor é somente para os verdadeiros crentes – Mt 26.26-29; para aqueles que foram obedientes no cumprimento da primeira ordenança
de Jesus – Lc 6.46; e para aqueles
que estão em comunhão com Deus,
com a sua Igreja e com a liderança da Igreja – 1Co 11.28-29.
4)
Antes da participação na Ceia do Senhor deve-se fazer um exame pessoal – 1Co 11.17-19, confessar os
pecados – 1Jo 1.9, e acertar as relações cortadas – Mt 5.23, 24.
III. Cremos no Lavra dos pés dos santos[11]
Essa é uma ordenança
sagrada que ensina a humildade e lembra o crente da necessidade de ser
diariamente purificado de todo pecado. Foi instituída pelo Senhor Jesus Cristo
e denominada de “exemplo” na noite em que Ele foi traído, em conexão com a
instituição da Ceia do Senhor. É dever e feliz prorrogativa de todo crente
observar essa sagrada ordenança[12].
Cremos
que, assim como o batismo e a ceia do Senhor, o lavar dos pés dos santos foi
uma ordenança instituída pelo Senhor Jesus. Em João 13 temos Jesus na prática da lavagem dos pés dos discípulos e
sua ordem de seguir o seu exemplo. Jesus dá uma ênfase especial a essa
ordenança ordenando três vezes que se fizesse o que ele mandava – vv.14-17. Ele considerou o lavar dos
pés uma bem-aventurança: Se sabeis estas coisas,
bem-aventurados sois se as fizerdes.
Cremos,
também, que essa ordenança tem um duplo propósito: 1º) Ensinar uma verdade importante do evangelho: ensinar a humildade e a humilhação do Senhor
Jesus – Jo 13; Fp 2.4-8; e 2º) Ser um testemunho – O testemunho ao
participar desta ordenança é de que participamos na humilhação de Cristo,
tomamos o seu jugo de serviço sobre nós e servimos aos outros com alegria na
nossa identificação com Ele. Quando nos prostramos diante dos pés de um irmão
para demonstrar que o servimos e procuramos colocá-lo acima de nós mesmos,
estamos seguindo o exemplo de Cristo, quando fez isso com seus discípulos. (Fp 2.3-5)
Em
João 13 Jesus diz que o seu ato é um
exemplo de que devemos fazer como Ele fez. Portanto, nossa participação no
lavar dos pés dos nossos irmãos não é apenas uma lembrança da auto-humilhação
do Senhor Jesus que veio da glória, se tornou homem e assumiu a forma de servo,
mas é também um testemunho de que nós também nos identificamos com Ele nesta
vida de serviço.
Concluindo
Em
todas as três ordenanças, a prática literal serve como uma lembrança constante
da lição espiritual. Nosso Senhor Jesus nos deu estas ordenanças literais para
praticar para que não nos esquecêssemos das importantes lições que elas ensinam.
Todas são simbólicas e como todo símbolo, não são essenciais à salvação. No
entanto, são símbolos ensinados e ordenados pelo próprio Senhor Jesus Cristo e,
portanto, é essencial que sigamos os Seus mandamentos e pratiquemos as
ordenanças que Ele nos deu. Se não fossem suficientemente importantes para serem
continuadas na vida da igreja, Ele não teria nos instado a praticá-las.
Nossa
doutrina das ordenanças nos distingue de outras denominações porque entendemos
todas as ordenanças como simbólicas, não sacramentais ou meios de graça
especiais.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 19/07/15
[1] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 1.
[3] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 85-87. Neste ponto o estudo
segue a Lição 11, Ponto 1 – Batismo, adaptados à nossa realidade local e com
cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[4] Mateus 28.19; Colossenses
2.12; Atos 8.36-39; Mateus 3.16; Marcos 1.5; João 3.23; Atos 16.32-34; 2.41.
[6] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil,
4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. Batismo
Cristão, p. 13.
[7] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 87-90. Neste ponto o estudo
segue a Lição 11, Ponto 2 – A Ceia do Senhor, adaptados à nossa realidade local
e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[8] 1 Coríntios 11.23-26;
Mateus 26.26-28.
[9] 1 Coríntios 10.16, 21;
11.27-29.
[10] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil,
4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. A Ceia do
Senhor, p. 13.
[11] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 90-93. Neste ponto o estudo
segue a Lição 11, Ponto 3 – A lavagem dos pés dos santos, adaptados à nossa
realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas
já citadas.
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