domingo, 26 de julho de 2015

Estudos Bíblicos da Fé Batista Livre (11) - O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja

Mt 28.19, 20; 1Co 11.23-26; Jo 13

Em nosso estudo anterior: O que cremos sobre o Dízimo e o Ministério da Igreja, vimos o assunto em dois pontos: 1º) Cremos no Dízimo; e 2º) Cremos no Ministério da Igreja.

Terminamos fazendo duas considerações breves sobre como essas doutrinas nos distinguem de pelo menos dois tipos de igrejas: 1) daquelas que desprezam um ministério remunerado – nós cremos que é dever da igreja sustentar aqueles que a servem e definir um plano para este sustento; e 2) daquelas que têm uma ideia hierárquica do ministério, baseado em um clero que obtém sua autoridade pela sucessão e a impõem ao povo simples da igreja.

Hoje, em nosso estudo da Fé Batista Livre, vamos ver O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja que está no Capítulo XVIII do Manual de Fé dos Batistas Livres do Brasil. Vamos fazer isso em três pontos: 1º) Cremos no Batismo cristão; e 2º) Cremos na Ceia do Senhor; e 3º) Cremos no Lavar dos pés dos santos.

Quando se lida com as doutrinas representativas de uma denominação, um dos assuntos que certamente surgirá será com respeito às ordenanças da igreja. Por ordenança queremos dizer todo tipo de prática externa que é simbólica de uma verdade do evangelho. Naturalmente incluímos também como parte de nossa definição o fato de uma ordenança ser algo que o próprio Senhor estabeleceu para que o praticássemos.[1]

Portanto, uma ordenança é uma prática externa estabelecida pelo Senhor Jesus para ensinar verdades espirituais básicas do evangelho e que deve ser observada perpetuamente pela igreja.[2]

Os batistas livres creem e ensinam que há três ordenanças que devem ser praticadas como parte da vida da igreja local: O Batismo, a Ceia do Senhor e o Lavar dos pés.

I. Cremos no Batismo Cristão[3]

Consiste na imersão dos crentes em água, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo[4], que representa o sepultamento e a ressurreição de Cristo, a morte dos crentes para o mundo, a lavagem das contaminações do pecado de suas almas, sua ressurreição para andarem em novidade de vida, seu compromisso com o serviço de Deus, e sua ressurreição no último dia[5].[6]

Essa ordenança tem um propósito duplo: 1º) Ela ensina uma verdade do evangelho de Jesus – a morte, sepultamento e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Estes três eventos estão no âmago do evangelho cristão (1Co 15.1-4) e; 2º) Ela é, também, um testemunho de que estamos nos identificando com Ele na morte, sepultamento e ressurreição, é a nossa confissão de fé. Em Romanos 6.3-4 não diz apenas que Jesus morreu, mas que também nós fomos batizados em sua morte; não apenas que Cristo ressurgiu dos mortos, mas que nós também devemos andar em novidade de vida.

Portanto, a Bíblia vê o batismo não apenas como um ensino sobre a obra de redenção de Cristo, mas também como um testemunho de que morremos com Ele e ressurgimos com Ele para andar em novidade de vida. Batismo é o nosso testemunho de que a pessoa que éramos (“o velho homem”) morreu e fomos restaurados à vida como novas pessoas (“o novo homem”), como nos mostra Romanos 6.5-10. Este é o significado do batismo cristão. Colossenses 3.1-2 expressa bem o resultado disto.

Então, o batismo ilustrar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus – 1Coríntios 15.3, 4, identifica minha nova vida com Cristo – 2Coríntios 5.17 e mostra minha identificação com Cristo – Romanos 6.4.

Foi o próprio Senhor Jesus quem instituiu o batismo como uma das partes centrais da missão da igreja na evangelização do mundo – Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 15. Por isso cremos e ensinamos sobre o batismo: Para seguir o exemplo de JesusMateus 3.13; Por que Jesus Cristo ordenou Mateus 28.19, 20; Para seguir o exemplo dos primeiros cristãosAtos 2.37, 38; Para testemunho do que Jesus fez em nossa vida1 João 2.3.

As epístolas de Paulo e dos outros apóstolos também demonstram que a igreja primitiva entendia que Jesus queria que se praticasse o batismo onde quer que fossem – e eles o praticaram fielmente. Um exemplo disto é 1Coríntios 1.13-15, porém há muitos outros.

Cremos que o modo bíblico de se batizar os novos crentes em no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é a imersão, porque somente a imersão do corpo na água, poderia simbolizar a nossa morte e sepultamento com Cristo e a nossa ressurreição com Ele para uma nova vida – Romanos 6.4. Por isso, cremos que o batismo na Bíblia era feito por imersão (Atos 8.38, 39) porque a imersão é a melhor maneira de simbolizar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus Cristo.

É importante, também, esclarecer que cremos em um batismo que é limitado àqueles que têm idade suficiente para fazerem uma confissão de fé consciente. Isto se chama batismo de crentes ou batismo dos que creem. Não praticamos batismo de infantes (recém-nascidos), já que estes não têm idade para fazer profissão de fé. Assim, batizamos somente aqueles que receberam a Jesus como Salvador e Senhor de suas vidas – Atos 2.41; 8.12; João 1.12. Somente aqueles que querem obedecer a Jesus e que creem de todo o coraçãoAtos 8.36-38.

II. Cremos na Ceia do Senhor[7]

Consiste na comemoração da morte de Cristo pelos nossos pecados, mediante o uso de pão, que Ele escolheu como símbolo de seu corpo quebrantado, e mediante o uso do cálice, símbolo do seu sangue derramado[8], através da qual os crentes expressam seu amor, sua fé, esperança e fidelidade perpétua[9] a Cristo.[10]

Cremos que, assim como o batismo, a Ceia do Senhor foi instituída pelo Senhor Jesus. Todos os Evangelhos Sinóticos relatam que o Senhor Jesus, na noite anterior à Sua morte, deu início à prática da Ceia do Senhor e ordenou que Seus discípulos seguissem esta prática. (Cf. Mt 26.26-28; Mc 14.22-25; Lc 22.17-20). Em 1Co 11.23-26, Paulo, relembra o acontecimento original e deixa claro que, tanto foi o próprio Senhor Jesus que iniciou a prática como também que tinha a intenção de que seus discípulos o praticassem.

Em 1 Coríntios 11 onde, Paulo, cita as palavras do Senhor Jesus dizendo com respeito ao pão: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. (v.24) E com relação ao cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. (v.25) Fica claro que, o pão partido que se ingere na Ceia do Senhor e o fruto da vide que se bebe são símbolos do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.

Essa ordenança também tem um duplo propósito: 1º) Ensinar uma verdade importante do evangelho: a verdade da morte de Cristo manifesta no quebrantar do seu corpo e no seu sangue vertido na cruz pelos nossos pecados (1Co 11.24, 25); 2º) Dar testemunho ao mundo de que experimentamos os resultados da morte de Cristo protagonizados pelos símbolos do Seu corpo e sangue (1Co 11.26). Portanto, a observância da Ceia do Senhor é como um sermão encenado da morte redentora de Cristo na cruz.

Em 1 Coríntios 10.16 a palavra comunhão significa participar e ter um relacionamento. Paulo está dizendo que ao comermos e bebermos estamos representando a nossa participação pessoal nos benefícios da expiação. Pode-se referir à Ceia do Senhor como Comunhão. Seu corpo foi quebrado e Seu sangue vertido por nós, para que tenhamos nossos pecados cobertos por este sangue.

Cremos que a participação na Ceia do Senhor traz edificação e fortalecimento. No entanto, é porque os símbolos servem para nos relembrar da maravilhosa verdade do evangelho. Toda vez que somos levados a relembrar da verdade do evangelho pelo qual fomos salvos, seremos fortalecidos e edificados em nossa vida cristã.


Resumindo:

1)   A Ceia do Senhor é uma ordenança bem simples – 1Co 11.23; é uma lembrança da morte de Jesus – 1Co 11.24, 25; é um anuncio – 1Co 11.26; o pão simboliza o corpo de Cristo – Mt 26.26; O suco de uva simboliza o sangue de Cristo – 1Co11.24; e também é um testemunho da nossa fé – 1Co 11.26.

2)   Eu devo celebrar e participar da Ceia do Senhor porque ela é um memorial do Senhor – Lc 22.19; para ser obediente ao meu Salvador – 1Co 11.24-26; e para seguir o exemplo das igrejas do Novo Testamento – 1Co 11.23.

3)   A participação na Ceia do Senhor é somente para os verdadeiros crentes – Mt 26.26-29; para aqueles que foram obedientes no cumprimento da primeira ordenança de Jesus – Lc 6.46; e para aqueles que estão em comunhão com Deus, com a sua Igreja e com a liderança da Igreja – 1Co 11.28-29.

4)   Antes da participação na Ceia do Senhor deve-se fazer um exame pessoal – 1Co 11.17-19, confessar os pecados – 1Jo 1.9, e acertar as relações cortadas – Mt 5.23, 24.

III. Cremos no Lavra dos pés dos santos[11]

Essa é uma ordenança sagrada que ensina a humildade e lembra o crente da necessidade de ser diariamente purificado de todo pecado. Foi instituída pelo Senhor Jesus Cristo e denominada de “exemplo” na noite em que Ele foi traído, em conexão com a instituição da Ceia do Senhor. É dever e feliz prorrogativa de todo crente observar essa sagrada ordenança[12].

Cremos que, assim como o batismo e a ceia do Senhor, o lavar dos pés dos santos foi uma ordenança instituída pelo Senhor Jesus. Em João 13 temos Jesus na prática da lavagem dos pés dos discípulos e sua ordem de seguir o seu exemplo. Jesus dá uma ênfase especial a essa ordenança ordenando três vezes que se fizesse o que ele mandava – vv.14-17. Ele considerou o lavar dos pés uma bem-aventurança: Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.

Cremos, também, que essa ordenança tem um duplo propósito: 1º) Ensinar uma verdade importante do evangelho: ensinar a humildade e a humilhação do Senhor JesusJo 13; Fp 2.4-8; e 2º) Ser um testemunho – O testemunho ao participar desta ordenança é de que participamos na humilhação de Cristo, tomamos o seu jugo de serviço sobre nós e servimos aos outros com alegria na nossa identificação com Ele. Quando nos prostramos diante dos pés de um irmão para demonstrar que o servimos e procuramos colocá-lo acima de nós mesmos, estamos seguindo o exemplo de Cristo, quando fez isso com seus discípulos. (Fp 2.3-5)

Em João 13 Jesus diz que o seu ato é um exemplo de que devemos fazer como Ele fez. Portanto, nossa participação no lavar dos pés dos nossos irmãos não é apenas uma lembrança da auto-humilhação do Senhor Jesus que veio da glória, se tornou homem e assumiu a forma de servo, mas é também um testemunho de que nós também nos identificamos com Ele nesta vida de serviço.

Concluindo

Em todas as três ordenanças, a prática literal serve como uma lembrança constante da lição espiritual. Nosso Senhor Jesus nos deu estas ordenanças literais para praticar para que não nos esquecêssemos das importantes lições que elas ensinam. Todas são simbólicas e como todo símbolo, não são essenciais à salvação. No entanto, são símbolos ensinados e ordenados pelo próprio Senhor Jesus Cristo e, portanto, é essencial que sigamos os Seus mandamentos e pratiquemos as ordenanças que Ele nos deu. Se não fossem suficientemente importantes para serem continuadas na vida da igreja, Ele não teria nos instado a praticá-las.

Nossa doutrina das ordenanças nos distingue de outras denominações porque entendemos todas as ordenanças como simbólicas, não sacramentais ou meios de graça especiais.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 19/07/15




[1] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 1.
[2] Picirilli, p.1.
[3] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 85-87. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 1 – Batismo, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[4] Mateus 28.19; Colossenses 2.12; Atos 8.36-39; Mateus 3.16; Marcos 1.5; João 3.23; Atos 16.32-34; 2.41.
[5] Romanos 6.4; Colossenses 3.3; 2.12; Tito 3.5; Gálatas 3.27; 1 Coríntios 15.29.
[6] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. Batismo Cristão, p. 13.
[7] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 87-90. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 2 – A Ceia do Senhor, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[8] 1 Coríntios 11.23-26; Mateus 26.26-28.
[9] 1 Coríntios 10.16, 21; 11.27-29.
[10] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. A Ceia do Senhor, p. 13.
[11] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 90-93. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 3 – A lavagem dos pés dos santos, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[12] João 13.4-8; 1 Timóteo 5.1-10.

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