domingo, 26 de julho de 2015

Estudos Bíblicos da Fé Batista Livre (12) - O que cremos sobre a Escatologia

1 Tessalonicenses 4.13-18

Em nosso estudo anterior: O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja, vimos o assunto em três pontos: 1º) Cremos no Batismo Cristão; e 2º) Cremos na Ceia do Senhor; e 3º) Cremos no Lavar dos pés dos santos.

Terminamos com seguintes considerações: 1ª) Em todas as três ordenanças, a prática literal serve como uma lembrança constante da lição espiritual. Nosso Senhor Jesus nos deu estas ordenanças literais para praticar para que não nos esquecêssemos das importantes lições que elas ensinam. Todas são simbólicas e como todo símbolo, não são essenciais à salvação; e 2ª) Nossa doutrina das ordenanças nos distingue de outras denominações porque entendemos todas as ordenanças como simbólicas, não sacramentais ou meios de graça especiais

Hoje, em nosso último estudo da Fé Batista Livre, vamos ver O que cremos sobre a Escatologia que está nos Capítulos XIX a XXII do Manual de Fé dos Batistas Livres do Brasil. Vamos fazer isso em dois pontos: 1º) Cremos na Morte e na Ressurreição; e 2º) Cremos na Segunda Vinda de Cristo, no julgamento e na retribuição.

Escatologia é uma palavra composta a partir de duas palavras gregas: escaton que quer dizer fim ou último e logia que significa estudo. Então, escatologia significa o estudo do fim ou o estudo (doutrina) das últimas coisas. Para Ryrie escatologia significa a teologia das últimas coisas e o seu estudo pode abranger todas as coisas que eram futuras em relação ao momento em que foram escritas, ou então, podem incluir apenas as que ainda são futuras em relação a nosso ponto de vista presente.[1]

O estudo da escatologia pode ser feito de diversas maneiras, por exemplo: 1) Separando o futuro individual do futuro mundial; 2) Catalogando o futuro para a Igreja, Israel, gentios ou o mundo; 3) Estudando os vários ensinamentos em ordem cronológica; etc. A maioria dos escatologistas parece combinar várias perspectivas de estudo. Eu também faço assim e pessoalmente acho mais proveitoso.

Para Ryrie o estudo da escatologia, especificamente o conhecimento da profecia: 1) oferece alegria em meio a aflição (2Co 4.17); 2) limpa e encoraja a vida em santidade (1Jo 3.3); 3) é útil como todas as Escrituras, para muitas necessidades importantes da vida cristã (2Tm 3.16, 17); 4) apresenta fatos sobre a vida após a morte (2Co 5.8); 5) mostra a verdade sobre o fim da história (Ap 21.5); 6) dá prova da confiabilidade das Escrituras (2Pe 1.20, 21); 7) eleva nosso coração em louvor a Deus, que está no controle total e que cumprirá sua vontade na história (Ap 5.8-14).[2]

Os últimos quatro capítulos do Manual tratam brevemente de questões escatológicas. Para Picirilli, alguns dizem respeito à escatologia individual: morte, ressurreição, julgamento e retribuição. E um deles diz respeito à escatologia histórica: a Segunda vinda de Cristo no final dos tempos – apesar de que alguns aspectos dos outros três também estão envolvidos nos acontecimentos ligados ao retorno de Cristo.

I. Cremos na Morte e na Ressurreição

1. Cremos na morte

Como resultado do pecado, toda a humanidade ficou sujeita à morte do corpo[3].
A alma não morre com o corpo, mas, imediatamente após a morte física, entra em um estado consciente de felicidade ou desgraça, em conformidade com o
caráter possuído nesta vida[4].[5]

Observando Gn 2.16, 17, vemos que esta passagem, que contém a primeira referência à morte na Bíblia, ensina claramente a conexão entre o pecado e a morte. A expressão hebraica usada no texto (infinitivo absoluto seguido pela forma imperfeita do verbo finito), na verdade, significa: “você deverá certamente morrer”.

As palavras que a Bíblia usa para definir a morte podem significar várias coisas. Mas, o significado óbvio e primeiro do verbo hebraico muth é morrer de morte física. Quando ela é, mais tarde, mencionada em conexão com o processo que é resultado do pecado do homem, é a morte física que está descrita (cf. Gn 3.19). Portanto, Gênesis 2.17 certamente está nos ensinando que a morte física, no mundo humano, é resultado do pecado do homem.

À luz do restante das Escrituras, a morte deve ser entendida como significando mais do que a simples morte física. O homem é uma totalidade, que possui um lado espiritual tanto quanto um lado físico em seu ser.

Uma vez que, de acordo com as Escrituras, o significado mais profundo da vida é a comunhão com Deus, o significado mais profundo da morte tem de ser a separação de Deus. A morte, conforme em Gênesis (2.17), inclui o que geralmente chamamos de morte espiritual, isto é, a quebra da comunhão do homem com Deus. Por causa do pecado de Adão, cada ser humano está agora, por natureza, num estado de morte espiritual (cf. Ef 2.1,2).

O Manual se refere à morte do corpo, mas não da alma, usando este último para representar a natureza superior do ser humano, seja chamado de alma ou espírito. Esta é a morte física. A alma ou espírito vivencia uma continuação da existência consciente. Isto se sucederá seja na felicidade ou na miséria – paraíso ou inferno.[6]

De qualquer forma, com exceção daqueles que estiverem vivos na Segunda Vinda de Cristo (1Co 15.51, 52; 1Ts 4.17) todas as pessoas estão destinadas a morrer (Hb 9.27), enquanto continuam uma existência consciente nos céus ou no inferno.[7]

2. Cremos na ressurreição[8]

As Escrituras ensinam a ressurreição dos corpos de todos os homens, cada um em sua própria ordem; aqueles que tiveram praticado o bem irão para a ressurreição da vida e aqueles que tiverem praticado o mal, para a ressurreição da condenação[9].[10]

Visto principalmente como um fato físico e individual, escatológico ou não, à ressurreição é a reversão da morte para todas as pessoas. Visto pela perspectiva do tempo escatológico a ressurreição ocorrerá em alguma relação específica com a Segunda Vinda de Cristo.

Já que a separação entre corpo, alma e espírito que ocorre na morte física não é permanente e nem final, a ressurreição física e individual assegura a ressurreição do corpo e, portanto, a reunificação da pessoa como um todo para uma existência consciente e eterna.

Do ponto de vista escatológico, a ressurreição, seja de uma só vez ou em fases, ocorrerá ligada à Segunda Vinda e ao final dos tempos. Independentemente do tempo da ressurreição, a ensino bíblico é de que todos os seres humanos ressurgirão da morte física. Isto inclui como deixa claro o Manual, os justos e os ímpios. A frase “cada um em sua própria ordem” vem de 1Co 15.23. Isto permite que a ressurreição dos justos e dos ímpios seja em momentos diferentes. A experiência de todos de ressurreição é uma questão de escatologia individual. O Manual cita com razão as palavras de nosso Senhor em João 5.28, 29 que garantem isto.

Em 1Co 15.35-50 temos o ensino bíblico mais claro sobre a natureza da ressurreição – ela é corporal. A garantia da ressurreição, de acordo com 1Co 15.22, está na ressurreição de Cristo e é, portanto, um fato garantido.

II. Cremos na Segunda Vinda de Cristo, no julgamento e na retribuição

Picirilli, em sua 12ª lição, trata primeiro do julgamento e da retribuição e depois da segunda vida de Cristo. Aqui, faremos o caminho inverso, primeiro a Segunda Vinda, depois o julgamento e a retribuição.

1. Segunda Vinda de Cristo[11]

O Senhor Jesus, que ascendeu às alturas e está assentado à direita de Deus, voltará no término da dispensação do evangelho, para glorificar Seus santos e julgar o mundo.

a. Três verdades que tornam o fato certo:

ð O próprio Jesus o prometeu – João 14.1-6.

ð Os anjos o afirmaram – Atos 1.10-11.

ð Os apóstolos o confirmaram em seus escritos – 1Ts 4.13-18.

b. Duas verdades descrevem como Ele vai voltar:

ð Ele virá corporalmente – Isto está certamente implícito no que os anjos disseram em Atos 1.10-11: “virá do modo como o vistes subir”.

ð Ele virá em glória triunfante – Quando Jesus voltar, não será no estado de humilhação que o caracterizou quando estava por aqui antes. Ao contrário, será no estado de glorificação que o caracteriza desde Sua ressurreição e ascensão. A transfiguração foi um antegosto disto (Mc 9.2-8; 2Pe 1.16-18; 1Jo 3.2).

c. Três coisas que Jesus vai realizar com o seu retorno:

ð Ele virá ressuscitar os mortos, especialmente os que creem – 1Ts 4.13-18.

ð Ele virá redimir o mundo; isto é, completar a obra de redenção que Ele iniciou durante o período de sua humilhação, especialmente na cruz. Romanos 8.18-23 deixa claro que mesmo o universo físico aguarda ansiosamente a redenção.

ð Ele virá receber os Seus para junto de Si e do Pai – João 14.1-6.

Segundo Picirilli, não há posição oficial ou unânime entre os Batistas Livres quanto à questão da cronologia da vinda de Cristo. Mas, todos concordam que Ele virá pessoal e corporalmente e em glória. Também, todos concordam que Sua vinda deve ser considerada iminente (a qualquer momento). Além destas áreas de concordância, há diferentes pontos de vista em nosso meio.

Picirilli fala desses pontos de vistas diferentes no meio Batista Livre do seguinte modo: Algumas observações resumidas: (1) não são muitos os Batistas Livres que creem no pós-milenismo (talvez nenhum); (2) muitos creem no Amilenismo e (3) muitos creem em uma ou outra variedade do pré-milenismo.

Picirilli, também, apresenta estas diferenças de outra maneira: (1) alguns (pré-milenistas pré e meso-tribulacionistas, às vezes denominados de pré-milenistas “dispensacionalistas”) creem que a Segunda Vinda será em duas fases: o “arrebatamento”, seguido da Grande Tribulação e depois da revelação de Cristo na terra; (2) outros creem que a Segunda Vinda será em apenas uma fase. Este último grupo inclui os pré-milenistas pós-tribulacionistas, que creem que haverá um reinado milenar de Cristo na terra depois que Ele voltar e antes do estado eterno, e os amilenistas, que creem que o estado eterno segue imediatamente após a Segunda vinda.

Para Picirilli, talvez seja mais importante apontar para os pontos em que todos concordam:

ð Jesus voltará novamente de forma corporal.

ð Sua vinda deve ser vista como iminente. O Dia do Senhor pode vir logo e sem aviso. Devemos estar sempre preparados.

ð Tanto os cristãos quanto os descrentes (seja ao mesmo tempo ou em momentos separados) serão ressurretos e julgados e em seguida passarão a eternidade no céu ou no inferno.

ð O “Reino” de Deus é tanto presente quanto futuro e Jesus é o Rei. Este reino existe atualmente com o Seu domínio sobre o Seu povo, reinando em seus corações. O reino espera o seu auge final e permanente que somente acontecerá no final desta era com o retorno de Cristo.

ð O Reino de Deus finalmente irá deslocar todos os reinos desta terra (Dn 2.44; Ap 11.15).

Com tantos pontos de concordância, podemos respeitar os pontos de vista um do outro e enfatizar a necessidade de se estar pronto para a vinda de Cristo. Aquele que tem esta bendita esperança irá se purificar e aguardar ansiosamente pelo dia do Senhor quando Ele endireitará todas as coisas.

2. Julgamento

Haverá um julgamento, quando o tempo e aprovação humana se encerrarão
para sempre[12] e, então, todos os homens serão julgados em conformidade
com as suas obras[13].[14]

O Manual indica claramente que todos serão julgados segundo suas obras. Na Bíblia estão determinados sete julgamentos para o futuro, que são considerados julgamentos escatológicos. 1º) O Tribunal de Cristo – julgamento dos crentes da Igreja – 2Co 5.10; 2º) O julgamento de Israel, a Grande Tribulação, que é também a 70ª Semana de Daniel – Ez 20.33-38; 3º) O julgamento das Nações que ocorrerá quando Cristo na sua segunda vinda descer no Monte das Oliveiras – Mt 25.31-46; 4º) O julgamento de Satanás, que ocorrerá no final do Milênio – Ap 20.7-10; 5º) O julgamento dos anjos – ocorrerá no julgamento do Trono Branco – 1Co 6.3; Jd 6; 2Pe 2.4; 6º) o julgamento do Grande Trono Branco – será o julgamento dos incrédulos de todos os tempos após o Milênio – Ap 20.11-15; e 7º) O julgamento da criação – será a destruição da terra e céus para o surgimento do Novo Céu a da Nova Terra – 2Pe 3.10; Ap 21.1.[15]

3. Retribuição

Imediatamente após o julgamento, os justos entrarão na vida eterna, e os ímpios irão para um estado de punição interminável[16].[17]

Retribuição significa recompensa e segue o julgamento. Novamente, isto diz respeito a todos. Para os justos, há a recompensa da vida eterna. Para os ímpios, a recompensa da punição interminável.[18] (cf. Mt 25.31-46)

Para os salvos, a vida é eterna. Para os perdidos, a punição é interminável. Estes últimos não vivenciam a vida eterna, mas a morte eterna – “morte” com o sentido de separação de Deus eternamente, que é a fonte da vida. A retribuição do perdido é uma eternidade sem esperança em um inferno de fogo.[19]

a. Recompensa dos crentes (salvos)

Em 1Co 3.14,15 está declarado que haverá dois resultados finais do julgamento dos crentes, a prova do fogo, das obras manifestas: o recebimento e a perda da recompensa.

Perda da recompensaEsse fogo nada tem a ver com o fogo do Geena (lago de fogo). O fogo do tribunal de Cristo é figura da luz que revela as impurezas, ou seja, a purificação. Portanto, as obras feitas por impulso carnal e para a ostentação da carne não suportarão o calor do fogo de Deus, por mais bonitas que sejam, serão desaprovadas.

Obtenção da recompensa – As obras praticadas com materiais indestrutíveis na prova do fogo serão dignas da recompensa final. O Novo Testamento apresenta várias recompensas, mas destaca algumas relativas às atividades especiais. O próprio Senhor Jesus, Juiz desse tribunal, é quem fará a entrega dos prêmios, galardões, recompensas (2Co 9.6). Ele declara a João, na ilha de Patmos, dizendo: “O meu galardão está comigo para dar a cada um segundo as suas obras” (Ap 22.12). O apóstolo Paulo declara, também, que todo crente receberá o seu louvor da parte de Deus (1Co 4.5).

b. Recompensa dos ímpios

Acontecerá diante do grande trono branco (Ap 20.11-15), onde Jesus será o juiz (Jo 5.22, 27). Serão abertos livros das obras pecaminosas dos incrédulos, além do Livro da Vida e serão condenados e lançados no lago de fogo, eternamente, todos os que não forem achados inscritos no Livro da Vida. Essa será a recompensa dos ímpios – o fogo eterno (Mt 25.41).

Concluindo

Nossa texto básico é 1Ts 4.13-18, onde Paulo revela o motivo pelo qual escreve sobre a segunda vida de Cristo (v.13), onde descreve a segunda vinda e dá segurança de que essa é uma verdade que acontecerá (v.14, 15) e aconselha a igreja do seguinte modo: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (v.18).

“Às vezes, é fácil esquecer que as verdades escatológicas na Palavra de Deus, como o restante de sua revelação, tem o propósito de nos consolar e nos dar segurança”.[20]

Que o Senhor Jesus no ajude!

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 25/07/15




[1] Ryrie, Charles Caldwell. Teologia Básica, Mundo Cristão, 2004, p. 77.
[2] Ibid., p. 510.
[3] Romanos 5.12; Hebreus 9.27; 1 Coríntios 15.22; Salmos 89.48; Eclesiastes 8.8
[4] Eclesiastes 12.7; Filipenses 1.23; Lucas 23.43; Mateus 17.3; 22.32; Atos 7.59; Mateus 10.28; 2 Coríntios 5.8; Lucas 16.22-26; Apocalipse 6.90
[5] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XIX – A Morte, p. 14.
[6] Picirilli, p. 94.
[7] Picirilli, p. 96.
[8] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 12 – O que cremos sobre a Escatologia, p. 95, 96. Neste ponto o estudo segue a Lição 12, Ponto 2 – A ressurreição, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[9] João 5.28, 29; Atos 24.15; 1 Coríntios 15.22, 23; 2 Timóteo 2.18; Filipenses 3.21; 1 Coríntios 15.35-44; Daniel 12.2
[10] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XXI – A ressurreição, p. 14.
[11] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 12 – O que cremos sobre a Escatologia, p. 99-102. Neste ponto o estudo segue a Lição 12, Ponto 4 – A Segunda Vinda de Cristo, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[12] Atos 17.31; 1 Coríntios 15.24; Apocalipse 10.6; 22.11; 2 Pedro 3.11, 12; Eclesiastes 9.10.
[13] 2 Coríntios 5.10; Eclesiastes 12.14; Mateus 12.36; Apocalipse 20.12; Romanos 2.16.
[14] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XXII – O Julgamento e a Ressurreição, p. 14.
[15] Naves, Edison. Escatologia e a Vida de Santidade, Igreja Batista Maranata, 2009, p. 177.
[16] Mateus 25.46; 2 Tessalonicenses 1.8-10; Romanos 6.23; 2 Pedro 1.11; Marcos 3.29; 9.43, 44; Judas 7; Apocalipse 14.11; 21.7, 8, 27; Mateus 13.41-43; Romanos 2.6-10
[17] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XXII – O Julgamento e a Ressurreição, p. 15.
[18] Picirilli, p. 98.
[19] Ibid., p. 98.
[20] Erickson, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática, Vida Nova, 1997, p. 482.

Estudos Bíblicos da Fé Batista Livre (11) - O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja

Mt 28.19, 20; 1Co 11.23-26; Jo 13

Em nosso estudo anterior: O que cremos sobre o Dízimo e o Ministério da Igreja, vimos o assunto em dois pontos: 1º) Cremos no Dízimo; e 2º) Cremos no Ministério da Igreja.

Terminamos fazendo duas considerações breves sobre como essas doutrinas nos distinguem de pelo menos dois tipos de igrejas: 1) daquelas que desprezam um ministério remunerado – nós cremos que é dever da igreja sustentar aqueles que a servem e definir um plano para este sustento; e 2) daquelas que têm uma ideia hierárquica do ministério, baseado em um clero que obtém sua autoridade pela sucessão e a impõem ao povo simples da igreja.

Hoje, em nosso estudo da Fé Batista Livre, vamos ver O que cremos sobre as Ordenanças da Igreja que está no Capítulo XVIII do Manual de Fé dos Batistas Livres do Brasil. Vamos fazer isso em três pontos: 1º) Cremos no Batismo cristão; e 2º) Cremos na Ceia do Senhor; e 3º) Cremos no Lavar dos pés dos santos.

Quando se lida com as doutrinas representativas de uma denominação, um dos assuntos que certamente surgirá será com respeito às ordenanças da igreja. Por ordenança queremos dizer todo tipo de prática externa que é simbólica de uma verdade do evangelho. Naturalmente incluímos também como parte de nossa definição o fato de uma ordenança ser algo que o próprio Senhor estabeleceu para que o praticássemos.[1]

Portanto, uma ordenança é uma prática externa estabelecida pelo Senhor Jesus para ensinar verdades espirituais básicas do evangelho e que deve ser observada perpetuamente pela igreja.[2]

Os batistas livres creem e ensinam que há três ordenanças que devem ser praticadas como parte da vida da igreja local: O Batismo, a Ceia do Senhor e o Lavar dos pés.

I. Cremos no Batismo Cristão[3]

Consiste na imersão dos crentes em água, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo[4], que representa o sepultamento e a ressurreição de Cristo, a morte dos crentes para o mundo, a lavagem das contaminações do pecado de suas almas, sua ressurreição para andarem em novidade de vida, seu compromisso com o serviço de Deus, e sua ressurreição no último dia[5].[6]

Essa ordenança tem um propósito duplo: 1º) Ela ensina uma verdade do evangelho de Jesus – a morte, sepultamento e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Estes três eventos estão no âmago do evangelho cristão (1Co 15.1-4) e; 2º) Ela é, também, um testemunho de que estamos nos identificando com Ele na morte, sepultamento e ressurreição, é a nossa confissão de fé. Em Romanos 6.3-4 não diz apenas que Jesus morreu, mas que também nós fomos batizados em sua morte; não apenas que Cristo ressurgiu dos mortos, mas que nós também devemos andar em novidade de vida.

Portanto, a Bíblia vê o batismo não apenas como um ensino sobre a obra de redenção de Cristo, mas também como um testemunho de que morremos com Ele e ressurgimos com Ele para andar em novidade de vida. Batismo é o nosso testemunho de que a pessoa que éramos (“o velho homem”) morreu e fomos restaurados à vida como novas pessoas (“o novo homem”), como nos mostra Romanos 6.5-10. Este é o significado do batismo cristão. Colossenses 3.1-2 expressa bem o resultado disto.

Então, o batismo ilustrar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus – 1Coríntios 15.3, 4, identifica minha nova vida com Cristo – 2Coríntios 5.17 e mostra minha identificação com Cristo – Romanos 6.4.

Foi o próprio Senhor Jesus quem instituiu o batismo como uma das partes centrais da missão da igreja na evangelização do mundo – Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 15. Por isso cremos e ensinamos sobre o batismo: Para seguir o exemplo de JesusMateus 3.13; Por que Jesus Cristo ordenou Mateus 28.19, 20; Para seguir o exemplo dos primeiros cristãosAtos 2.37, 38; Para testemunho do que Jesus fez em nossa vida1 João 2.3.

As epístolas de Paulo e dos outros apóstolos também demonstram que a igreja primitiva entendia que Jesus queria que se praticasse o batismo onde quer que fossem – e eles o praticaram fielmente. Um exemplo disto é 1Coríntios 1.13-15, porém há muitos outros.

Cremos que o modo bíblico de se batizar os novos crentes em no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é a imersão, porque somente a imersão do corpo na água, poderia simbolizar a nossa morte e sepultamento com Cristo e a nossa ressurreição com Ele para uma nova vida – Romanos 6.4. Por isso, cremos que o batismo na Bíblia era feito por imersão (Atos 8.38, 39) porque a imersão é a melhor maneira de simbolizar a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus Cristo.

É importante, também, esclarecer que cremos em um batismo que é limitado àqueles que têm idade suficiente para fazerem uma confissão de fé consciente. Isto se chama batismo de crentes ou batismo dos que creem. Não praticamos batismo de infantes (recém-nascidos), já que estes não têm idade para fazer profissão de fé. Assim, batizamos somente aqueles que receberam a Jesus como Salvador e Senhor de suas vidas – Atos 2.41; 8.12; João 1.12. Somente aqueles que querem obedecer a Jesus e que creem de todo o coraçãoAtos 8.36-38.

II. Cremos na Ceia do Senhor[7]

Consiste na comemoração da morte de Cristo pelos nossos pecados, mediante o uso de pão, que Ele escolheu como símbolo de seu corpo quebrantado, e mediante o uso do cálice, símbolo do seu sangue derramado[8], através da qual os crentes expressam seu amor, sua fé, esperança e fidelidade perpétua[9] a Cristo.[10]

Cremos que, assim como o batismo, a Ceia do Senhor foi instituída pelo Senhor Jesus. Todos os Evangelhos Sinóticos relatam que o Senhor Jesus, na noite anterior à Sua morte, deu início à prática da Ceia do Senhor e ordenou que Seus discípulos seguissem esta prática. (Cf. Mt 26.26-28; Mc 14.22-25; Lc 22.17-20). Em 1Co 11.23-26, Paulo, relembra o acontecimento original e deixa claro que, tanto foi o próprio Senhor Jesus que iniciou a prática como também que tinha a intenção de que seus discípulos o praticassem.

Em 1 Coríntios 11 onde, Paulo, cita as palavras do Senhor Jesus dizendo com respeito ao pão: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. (v.24) E com relação ao cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. (v.25) Fica claro que, o pão partido que se ingere na Ceia do Senhor e o fruto da vide que se bebe são símbolos do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.

Essa ordenança também tem um duplo propósito: 1º) Ensinar uma verdade importante do evangelho: a verdade da morte de Cristo manifesta no quebrantar do seu corpo e no seu sangue vertido na cruz pelos nossos pecados (1Co 11.24, 25); 2º) Dar testemunho ao mundo de que experimentamos os resultados da morte de Cristo protagonizados pelos símbolos do Seu corpo e sangue (1Co 11.26). Portanto, a observância da Ceia do Senhor é como um sermão encenado da morte redentora de Cristo na cruz.

Em 1 Coríntios 10.16 a palavra comunhão significa participar e ter um relacionamento. Paulo está dizendo que ao comermos e bebermos estamos representando a nossa participação pessoal nos benefícios da expiação. Pode-se referir à Ceia do Senhor como Comunhão. Seu corpo foi quebrado e Seu sangue vertido por nós, para que tenhamos nossos pecados cobertos por este sangue.

Cremos que a participação na Ceia do Senhor traz edificação e fortalecimento. No entanto, é porque os símbolos servem para nos relembrar da maravilhosa verdade do evangelho. Toda vez que somos levados a relembrar da verdade do evangelho pelo qual fomos salvos, seremos fortalecidos e edificados em nossa vida cristã.


Resumindo:

1)   A Ceia do Senhor é uma ordenança bem simples – 1Co 11.23; é uma lembrança da morte de Jesus – 1Co 11.24, 25; é um anuncio – 1Co 11.26; o pão simboliza o corpo de Cristo – Mt 26.26; O suco de uva simboliza o sangue de Cristo – 1Co11.24; e também é um testemunho da nossa fé – 1Co 11.26.

2)   Eu devo celebrar e participar da Ceia do Senhor porque ela é um memorial do Senhor – Lc 22.19; para ser obediente ao meu Salvador – 1Co 11.24-26; e para seguir o exemplo das igrejas do Novo Testamento – 1Co 11.23.

3)   A participação na Ceia do Senhor é somente para os verdadeiros crentes – Mt 26.26-29; para aqueles que foram obedientes no cumprimento da primeira ordenança de Jesus – Lc 6.46; e para aqueles que estão em comunhão com Deus, com a sua Igreja e com a liderança da Igreja – 1Co 11.28-29.

4)   Antes da participação na Ceia do Senhor deve-se fazer um exame pessoal – 1Co 11.17-19, confessar os pecados – 1Jo 1.9, e acertar as relações cortadas – Mt 5.23, 24.

III. Cremos no Lavra dos pés dos santos[11]

Essa é uma ordenança sagrada que ensina a humildade e lembra o crente da necessidade de ser diariamente purificado de todo pecado. Foi instituída pelo Senhor Jesus Cristo e denominada de “exemplo” na noite em que Ele foi traído, em conexão com a instituição da Ceia do Senhor. É dever e feliz prorrogativa de todo crente observar essa sagrada ordenança[12].

Cremos que, assim como o batismo e a ceia do Senhor, o lavar dos pés dos santos foi uma ordenança instituída pelo Senhor Jesus. Em João 13 temos Jesus na prática da lavagem dos pés dos discípulos e sua ordem de seguir o seu exemplo. Jesus dá uma ênfase especial a essa ordenança ordenando três vezes que se fizesse o que ele mandava – vv.14-17. Ele considerou o lavar dos pés uma bem-aventurança: Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.

Cremos, também, que essa ordenança tem um duplo propósito: 1º) Ensinar uma verdade importante do evangelho: ensinar a humildade e a humilhação do Senhor JesusJo 13; Fp 2.4-8; e 2º) Ser um testemunho – O testemunho ao participar desta ordenança é de que participamos na humilhação de Cristo, tomamos o seu jugo de serviço sobre nós e servimos aos outros com alegria na nossa identificação com Ele. Quando nos prostramos diante dos pés de um irmão para demonstrar que o servimos e procuramos colocá-lo acima de nós mesmos, estamos seguindo o exemplo de Cristo, quando fez isso com seus discípulos. (Fp 2.3-5)

Em João 13 Jesus diz que o seu ato é um exemplo de que devemos fazer como Ele fez. Portanto, nossa participação no lavar dos pés dos nossos irmãos não é apenas uma lembrança da auto-humilhação do Senhor Jesus que veio da glória, se tornou homem e assumiu a forma de servo, mas é também um testemunho de que nós também nos identificamos com Ele nesta vida de serviço.

Concluindo

Em todas as três ordenanças, a prática literal serve como uma lembrança constante da lição espiritual. Nosso Senhor Jesus nos deu estas ordenanças literais para praticar para que não nos esquecêssemos das importantes lições que elas ensinam. Todas são simbólicas e como todo símbolo, não são essenciais à salvação. No entanto, são símbolos ensinados e ordenados pelo próprio Senhor Jesus Cristo e, portanto, é essencial que sigamos os Seus mandamentos e pratiquemos as ordenanças que Ele nos deu. Se não fossem suficientemente importantes para serem continuadas na vida da igreja, Ele não teria nos instado a praticá-las.

Nossa doutrina das ordenanças nos distingue de outras denominações porque entendemos todas as ordenanças como simbólicas, não sacramentais ou meios de graça especiais.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 19/07/15




[1] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 1.
[2] Picirilli, p.1.
[3] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 85-87. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 1 – Batismo, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[4] Mateus 28.19; Colossenses 2.12; Atos 8.36-39; Mateus 3.16; Marcos 1.5; João 3.23; Atos 16.32-34; 2.41.
[5] Romanos 6.4; Colossenses 3.3; 2.12; Tito 3.5; Gálatas 3.27; 1 Coríntios 15.29.
[6] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. Batismo Cristão, p. 13.
[7] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 87-90. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 2 – A Ceia do Senhor, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[8] 1 Coríntios 11.23-26; Mateus 26.26-28.
[9] 1 Coríntios 10.16, 21; 11.27-29.
[10] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, Capítulo XVIII – As Ordenanças do Evangelho – 1. A Ceia do Senhor, p. 13.
[11] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 11 – O que cremos sobre as Ordenanças, p. 90-93. Neste ponto o estudo segue a Lição 11, Ponto 3 – A lavagem dos pés dos santos, adaptados à nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[12] João 13.4-8; 1 Timóteo 5.1-10.