Em
nosso estudo anterior vimos:
O capítulo 5 com o tema: Uma dura mensagem de Deus – juízo, disciplina e
restauração. Abordamos o assunto em dois pontos: 1º) O juízo de
Deus contra a apostasia e imoralidade do seu povo – vv.1-7; e 2º) A
disciplina radical de Deus com o propósito de restaurar o seu povo – vv.8-15.
Terminamos com a
seguinte afirmação de Hernandes: Deus disciplina aqueles a quem ama. O propósito
divino não é a destruição do seu povo, e sim a sua restauração. A disciplina é
amarga, mas traz cura. Ela é dolorosa, mas restaura.
No
capítulo 5, Oseias profetizou sobre
“o irremediável juízo de Deus aos impenitentes reinos de Israel e Judá, dizendo
que seria para eles como traça que ataca por dentro e como leão que ataca por
fora (cf. 5.12-15). Diante do
castigo iminente, o povo esboça uma reação de volta para Deus, sinalizando uma
conversão ao Senhor”.[1] Porém, o
texto “mostrará que a conversão de Israel foi superficial. Na verdade, não
houve tristeza pelo pecado, e sim pesar pelas consequências do pecado. Israel queria
livrar-se do castigo, mas não estava disposto a desvencilhar-se dos seus erros”.[2]
Hoje,
vamos estudar os capítulos 6 e 7 com
o tema: Sem arrependimento e confissão, não há perdão. Trataremos o assunto em dois pontos: 1º) O engano do falso arrependimento – 6.1-11; e 2º) O
estilo de vida hipócrita e o pecado descrito em metáforas – 7.1-16.
I. O engano do falso arrependimento –
6.1-11
Oseias
contrasta as palavras de Israel e seu arrependimento verbal com as ações que
praticavam. Era o que o povo fazia, e não o que dizia, que demonstrava a
atitude do coração.[3]
Mas, Deus já esperava esse subterfugio hipócrita e desmascarou não apenas sua falsidade,
mas também a maneira pecaminosa como trataram o Senhor.[4]
Todo
o arrependimento forçado é notoriamente superficial e logo abandonado quando as
coisas melhoram um pouco. A história mostra que o excelente ideal dos vv.1-3 não se cumpriu. Israel desviou-se
demais e tornou-se incapaz de ser remido.[5] Ao ler
essas palavras, tem-se a impressão de que a nação está sinceramente arrependida
e buscando ao Senhor, mas ao ver o que Deus diz, percebe-se como a confissão do
povo era, na verdade, superficial.[6]
O
que Deus esperava era uma genuína conversão, manifestada pelo arrependimento (até que
eles admitam sua culpa – 5.15a) e pela fé (eles buscarão a minha face – 5.15b).
O arrependimento e a fé são os dois elementos da conversão. O arrependimento é
o reconhecimento da culpa, enquanto a fé é a volta para Deus para depositar
nele inteira confiança (6.1).[7]
Hernandes
fala dos sinais e perigos dessa falsa conversão de Israel:[8]
1. Arrependimento superficial – vv.1-3. Por que o arrependimento de Israel foi superficial? 1º) Porque
queria livrar-se das consequências do pecado, e não do pecado (v.1); 2º) Porque queria respostas
imediatas sem um aprofundamento da sua experiência com Deus (v.2); e 3º) Porque a busca pelo
conhecimento de Deus visava mais as bênçãos de Deus do que o Deus das bênçãos
(v.3).
2. Amor Inconstante – v.4, 5. Seu amor por Deus era epidérmico, vacilante,
instável e passageiro. Não havia sinceridade em conhecer ao Senhor nem
constância em amá-lo. Algumas verdades devem ser aqui destacadas: 1ª) Deus
não se impressiona com palavras bonitas, ele vê o coração – v.4; 2ª) A palavra de Deus, que
deveria salvá-los, é enviada para castigá-los – v.5; e 3ª) Aqueles que rejeitam a misericórdia terão de
enfrentar o juízo – v.5b.
3. Culto fingido – v.6. O falso arrependimento de Israel e sua conversão
superficial consistiam numa manifestação religiosa, com abundantes sacrifícios,
mas desacompanhada de uma vida santa. Não havia conexão entre o culto e a vida.
O povo de Israel queria substituir piedade por religiosidade. Queria substituir
quebrantamento por desempenho; amor verdadeiro por pomposos rituais. Algumas
verdades podem ser aqui observadas: 1ª)
O culto que agrada a Deus manifesta-se
numa relação correta com o próximo – v.6a;
e 2ª) O culto que agrada a Deus manifesta-se numa relação correta com Deus
– v.6b.
4. Aliança quebrada – v.7. Israel viola sua aliança com Deus e se comporta
aleivosamente contra o Senhor. Destacamos aqui duas verdades: 1ª) Uma
infidelidade clamorosa – v.7a; e
2ª) Um comportamento traidor – v.7b.
5. Violência desumana – vv.8, 9. O povo não se voltou para Deus de verdade, mas se
voltou para a violência com toda força. Destacamos aqui dois pontos: 1º) Os
lugares sagrados que deveriam proteger da violência promovem a violência –
v.8; e 2º) Os ministros sagrados que
deveriam proteger o povo exploram e matam o povo – v.9.
6. Imoralidade contagiosa – vv.10, 11. A idolatria levou o povo à imoralidade. Essa
imoralidade contaminou Israel e atingiu Judá, que também num breve espaço de
tempo sofreria amargas consequências. Chamamos a atenção para dois pontos: 1º) O
pecado do povo de Deus é mais grave do que o pecado dos ímpios – v.10; e 2º) O pecado do povo de Deus
é mais contagioso que o pecado dos ímpios – v.11.
II. O estilo de vida hipócrita e o
pecado descrito em metáforas – 7.1-16
Os
sacerdotes, os reis, os príncipes e todo o povo capitularam à iniquidade e à
devassidão. Em vez de voltar-se para o Senhor, aprofundavam-se ainda mais no
pecado. Em vez de buscar socorro no Altíssimo, voltavam-se para as
superpotências estrangeiras para fazer alianças insensatas. Anestesiados por
seus pecados, pensando tolamente que Deus não via as suas mazelas, Israel
alimentou a soberba no coração.[9] Numa
série de símiles e metáforas vividas, Oseias revela o verdadeiro caráter do
povo de Deus.[10]
Antes
de usar as metáforas para revelar o pecado, Oseias faz três observações: 1ª) O
povo tem um relacionamento errado com Deus – v.1a; 2º) O povo tem um relacionamento errado com os
homens – v.1b; e 3º) O
povo perdeu o temor e o pudor – vv.2-4a.
O
profeta Oseias usa quatro símiles para descrever o amadurecimento de Israel
para o juízo.[11]
1. Um forno aceso – vv.4-7. Os sacerdotes e os reis perderam completamente o
referencial da santidade e da decência. As mazelas da nação começaram nos
templos religiosos e nos palácios. Oseias descreve com cores vivas a inclinação
desses líderes para o pecado. Todo o quadro de Oseias 7.3-7
coloca a perfídia sacerdotal contra a credulidade real.
Temos
aqui cinco pontos para a reflexão: 1º) Uma paixão ardente pela sensualidade – v.3;
2º) Um descontrole total pela bebedeira – v.5; 3º) Uma maquinação constante para o mal – v.6; 4º) Uma conspiração contínua
para matar – v.7; e 5º) Uma
apostasia generalizada – v.7b.
A
apostasia que começara nos templos e passara pelo palácio estava agora em todas
as famílias. Nenhum dos líderes sacerdotais clamou a Deus em busca de alguma
solução real. Todos os demais recursos foram tentados: invasão militar (5.8-12),
intriga internacional (5.13), arrependimento falso (6.1-3)
e conspiração assassina (6.7-9; 7.3-7). A que ponto chega um
povo quando seus líderes religiosos confiam em uma série de homens perversos e
incompetentes para proporcionar salvação e depois os matam quando falham? O
maior pecado deles é que queriam seguir o próprio caminho sem Deus.
2. Um pão
que não foi virado – vv.8-10. Oseias
descreve o amadurecimento de Israel para o juízo e usa mais uma figura
doméstica, comparando agora Efraim a um pão encruado, ou seja, um pão que não
foi virado. O que essa figura sugere? Quatro pontos para reflexão: 1º) Um
povo que é influenciado em vez de influenciar – v.8; 2º) Um povo ignorante que trabalha, mas não
desfruta os frutos do seu labor – v.9a;
3º) Um povo que envelhece, mas não amadurece – v.9b; e 4º) Um povo que se volta, mas para a direção
errada – v.10.
O
pecado de Israel o levou à soberba, e a soberba é a sala de espera do fracasso.
A soberba precede a ruína. A soberba é o corredor da queda. Mesmo no aperto,
Israel preferiu buscar o falso refúgio das alianças políticas a voltar-se para
o Senhor, seu Deus (vv.7, 9, 10, 13-15).
Mesmo diante das nuvens escuras se formando no horizonte, anunciando a iminente
chegada do cativeiro, Israel preferiu alimentar-se da soberba a se humilhar sob
a mão divina.
3. Uma pomba
enganada – vv.11-15. Oseias deixa a
figura doméstica para usar uma figura campestre. Depois de comparar Israel a um
forno aceso e a um pão encruado, agora o compara a uma pomba enganada. A pomba
é uma ave inocente e volúvel. Ela não tem noção de perigo.
Para
entendermos essa figura, destacamos aqui cinco fatos acerca de Israel: 1º) Um povo que corre para o refúgio errado em vez de buscar a
Deus – v.11; 2º) Um
povo que recebe castigo em vez de bênção – v.12; 3º) Um povo que recebe destruição em vez de
redenção – v.13; 4º) Um
povo que corre atrás de coisas, mas não anseia por Deus – v.14; 5º) Um povo que responde ao
cuidado divino com ingratidão, e não com obediência – v.15.
Como
um Pai, Deus adestrou, ensinou e fortaleceu Israel, mas em vez de demonstrar
gratidão diante de tão acendrado amor e tão generoso cuidado, Israel maquinou
contra Deus para trocá-lo por outros deuses.
4. Um arco
enganoso – v.16. Oseias conclui com
uma figura de guerra. Essa é a mais forte das figuras, porque o arco era uma
arma de guerra. A situação agora era uma questão de vida ou morte. Um arco
enganoso não podia atingir o povo. Um arco enganoso não podia ser arma de
ataque nem de defesa. Um guerreiro com um arco enganoso estaria completamente
vulnerável, à mercê de seus inimigos.
Dois
fatos acerca de Israel para nossa reflexão: 1º) Porque o povo não
se voltou para Deus, tornou-se vulnerável nas mãos de seus inimigos
– v.16a; e 2º) Porque os príncipes não
se arrependeram de seus pecados, foram mortos em seus pecados – v.16b.
Por
causa da queda dos príncipes, os israelitas foram escarnecidos na terra do
Egito. Foram ridicularizados porque se vangloriaram de serem fortes e caíram
diante da Assíria. A presunção de Israel desembocou na sua humilhação!
Concluindo
Ao
misturar-se com os povos vizinhos, Israel perdeu a própria identidade. Muitas
igrejas hoje são tentadas a imitar o mundo com o propósito de atrair o mundo.
Isso é um ledo engano. A igreja é sal e luz. Ela é totalmente distinta do mundo
e só assim pode influenciá-lo. O nosso relacionamento com o Senhor deve ser
completo e não apenas parcial. A obra da graça divina deve permear todo o nosso
ser, de modo que nossa mente, coração e forças sejam dedicados a ele. A
transigência com o mundo leva a uma conduta desequilibrada e a um caráter
imaturo. Podemos ter muita doutrina e poucos atos, muito credo e pouca conduta,
muita crença e pouco comportamento, muitos princípios e pouca prática, muita
ortodoxia e pouca ortopraxia.[12]
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 13/08/16
[1] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em
ação, Editora Hagnos, p. 115.
[3] Lawrence, Richards. Comentário Bíblico do Professor,
Editora Vida, 2004, p. 523.
[4] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do
Antigo Testamento V. 4 – Oséias, Ed. Geográfica, p. 399.
[5] Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado,
Volume 5 – Oseias, p. 3459.
[6] Wiersbe, p. 399.
[7] Lopes, p. 116.
[8] Lopes, p. 116-125. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[9] Lopes, p. 131.
[10] Wiersbe, p. 399.
[11] Lopes, p.134-144. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[12] Lopes, p. 143.