domingo, 11 de maio de 2014

A Justiça do Cristão (2)

Mateus 5.21-30
Agindo e Evitando Corretamente

No estudo anterior, vimos Jesus dizendo que não veio para “revogar a Lei e os profetas”, mas “para cumpri-los”. E de fato ele o fez dando-lhes a profundidade e o sentido originalmente pretendidos por Deus e obedecendo-os.

Hoje, vamos ver dois exemplos que ele citou sobre a profundidade e sentido original da Lei de Deus e como evitar cair diante da tentação e pecar.

1. “Não matarás...” Não partas para a violência! (vv.21-26) [1]

No contexto bíblico mais amplo, entende-se que o que Deus proíbe com esse mandamento não é a supressão da vida humana em qualquer circunstância (defesa própria, guerras, etc.), mas, sim, o homicídio. Mas, esta questão é polêmica, e foge ao propósito desta lição, que é tão somente comparar o ensino dos escribas com o de Jesus.

Os escribas, que eram os mestres judaicos, restringiam o mandamento ao ato de matar em si. Jesus ensinava que o que a Lei proíbe aqui não é só o assassinato, mas também a raiva e toda e qualquer violência verbal ou física. A versão da BLH diz: “Qualquer um que ficar com raiva do seu irmão... Quem disser ao seu irmão: Você não vale nada... Quem chamar o seu irmão de idiota...”. Raiva e palavras insidiosas geralmente não acabam em homicídio. Entretanto, diante de Deus, são equivalentes ao homicídio. “Quem odeia a seu irmão é assassino...” (1Jo 3.15.). Raiva e os insultos são sintomas do desejo de acabar com a outra pessoa. Alguns chegam a dizer: “Gostaria que ele morresse!” No coração, já matou!

Em seguida, Jesus acrescenta duas aplicações práticas deste princípio: 1ª) Faça as pazes, antes do culto! (vv.23-24); e 2ª) Pague a dívida, antes da prisão! (vv.25-26).

Essas figuras são diferentes. O cenário da primeira é uma igreja; o da segunda é um tribunal; a primeira supõe uma situação de ressentimento entre dois irmãos em Cristo; a segunda descreve uma situação de endividamento entre duas pessoas inimizadas. Mas, em ambos os casos, a situação básica é a mesma (um tem ressentimento contra o outro) e a lição básica é também a mesma (há necessidade de ação conciliatória imediata). Portanto: Não fique com raiva, não insulte, não deseje a morte do outro. Peca-lhe perdão! Faça as pazes! Pague a sua dívida! Busque a conciliação! Faça isto o mais depressa que puder! É o melhor!

2. “Não adulterarás!” Se está difícil, nem olhe! (vv.27-30)

Jesus passa do sexto para o sétimo mandamento. Novamente os mestres judaicos estavam tentando limitar o alcance do mandamento original. Ensinavam que o adultério mesmo só ocorre mediante a prática do ato sexual. Jesus, porém, explicou que o mandamento é muito mais amplo, ou seja, inclui o olhar cobiçoso ou concupiscente e a imaginação impura ou fantasia. Observações:

a.    Não há aqui a mais leve sugestão de que as relações sexuais dentro do casamento não sejam algo lindo que Deus nos deu e abençoa. Leia Gn 4.1; 25.21; 1Sm 1.10, 11, 19, 20. Veja também 1Co 7.3-5.

b.   Os ensinamentos de Jesus nesta passagem referem-se ao sexo ilícito, fora do casamento, praticado por pessoas casadas ou solteiras; homens e mulheres.

c.    Jesus não proíbe os homens de olharem para as mulheres, nem as mulheres de olharem para os homens, mas, sim, de fazerem-no com intenção impura. Sabemos da diferença que há entre olhar e cobiçar; entre olhar, achar bonita, simpática, agradável, e olhar, achar sensual, atraente, cobiçar... e ficar a imaginar...

d.   Jesus relacionou os olhos com o coração. O adultério começa nos olhos e vai parar no coração. Se as circunstâncias o favorecerem, vai parar na cama...

Isso é tão grave e de consequências tão danosas, que Jesus acrescentou: vv.29, 30. Parece drástico, radical demais. Mas é só uma figura de linguagem. O significado é simples. “Se o seu olho o faz pecar, não olhe!” (Corte o mal pela raiz, onde ele começa!). “Se a sua mão o faz pecar, não faça!” (Corte esse mal pela raiz também!). Poderíamos acrescentar: “Se o seu pé... não vá!” Os cristãos, às vezes, expõem-se demasiadamente e deliberadamente às tentações e ao pecado olhando e tornando a olhar as pessoas do sexo oposto que se exibem nas ruas, nas praias, nas revistas, no cinema, na televisão, na Internet. Veja Jó 31.1, 2, 9-12.

Concluindo

Vamos concluir esta parte do nosso estudo acrescentando apenas que a tentação não é pecado. Todavia, a diferença é sutil e, às vezes, enganosa. A tentação é uma expressão da nossa tendência nata para o pecado, que é explorada por Satanás, o Tentador, e aguçada por toda essa maldade, violência e imoralidade que nos cerca. Apesar disso, permanecem os mandamentos, com a profundidade que lhes atribuiu o Senhor Jesus: “Não matarás... Não adulterarás... nem em pensamento!”

É difícil, mas não é impossível. Deus prometeu que não permitiria que fôssemos tentados além das nossas forças (1Co 10.13). E o autor da epístola aos Hebreus escreveu: “... temos Jesus, o Filho de Deus... que foi tentado do mesmo modo que nós, mas não pecou. Por isso, tenhamos confiança e cheguemos perto do trono divino, onde está a graça de Deus. Ali receberemos misericórdia e encontraremos graça sempre que precisarmos de ajuda” (Hb 4.14-16). Chegamos perto do “trono da graça” voltando os olhos para as páginas das Escrituras e, depois, fechando-os para orar...



[1] A partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.

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