No
estudo anterior, vimos dois exemplos
citados por Jesus sobre a profundidade e o sentido original da Lei de Deus e
como evitar cair diante da tentação e pecar.
Hoje,
vamos ver três outros exemplos que Jesus citou da Lei – 1º) Não perjurarás, mas
cumprirás os teus juramentos ao Senhor. (v.33); 2º) Olho
por olho, e dente por dente. (v.38); e 3º) Amarás
o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. (v.43)
1. Gente de palavra – vv.33-37
[1]Os fariseus eram permissivos não somente nas questões
relativas ao adultério e ao divórcio, mas também em seus ensinamentos sobre
juramentos. Eles diziam: “Não quebre a sua promessa, mas cumpra o que você
jurou ao Senhor que ia fazer...” Jesus dizia: “Não jurem de jeito nenhum. Não
jurem pelo céu... nem pela terra...” (vv.33-34
BLH)
Os
fariseus conheciam os ensinos do AT sobre juramentos, principalmente aqueles
que tomavam a Deus por testemunha. Tais juramentos ou votos devem ser
cumpridos. (cf. Lv 19.12; Nm 30.2; Dt
23.1) Porém, os mestres judaicos limitavam-se a exigir cumprimento dos
juramentos, votos ou promessas feitas a Deus ou usando alguma fórmula do tipo “juro por Deus”. Não eram rigorosos
quanto à palavra empenhada no dia a dia, nas questões corriqueiras. Se não foi prometido ao Senhor ou em nome do
Senhor...
Jesus,
ao contrário, ensinou que não precisamos jurar; nossa palavra deve bastar! Os
que convivem conosco devem saber que quando dizemos “Sim”, é sim mesmo; quando
dizemos “Não”, é não mesmo. Jesus ainda acrescentou: “... o que disto passar
vem do maligno” (v.37 cf. Jo 8.44). Falta de palavra, juramentos desnecessários
ou quebrados, desonestidade e mentira, são obras do maligno!
Pense
no seu dia a dia, nas coisas consideradas mínimas tais como “Estarei lá, às tantas horas...”; “Amanhã eu farei isto para você...”; “No dia tal eu lhe pago...”; “Vou orar por você...”. Há também votos
de maior gravidade ou alcance que fazemos na profissão de fé e batismo, no casamento...
Cumprimos estas e tantas outras promessas? Temos palavra?
2. Gente
que não se vinga – vv.38-42
Falando ainda da Justiça do Cristão, Jesus
corrigiu a atitude predominante entre os judeus de resistir ao perverso ou,
como lemos na BLH, de se vingarem dos que lhes faziam mal. Eles se baseavam
numa frase conhecida da Lei Mosaica: “Olho por olho, dente por dente”. Mas
é preciso lembrar que a Lei de Moisés era um código civil, além de moral. Por
exemplo: Êx 20 contém os Dez
Mandamentos, que são Lei Moral; Êx
21 a 23 contêm uma série de ordenanças que aplicam os dos Dez
Mandamentos à vida do povo judeu (leis civis). Há ali uma variedade de “casos
legais” sobre os prejuízos causados a pessoas e propriedades. É neste
contexto que aparecem as palavras “... vida por vida, olho por olho, dente
por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento
por ferimento, machucadura por machucadura” (Êx 21.24-25. Cf. Lv 24.19-20; Dt 19.21).
O
contexto indica que esta era uma instrução para juízes; era a lei da retribuição
exata, cujo propósito era estabelecer o fundamento da justiça especificando o
castigo que o culpado merecia e limitando a compensação da vítima a um
equivalente exato e não maior. Tinha o duplo efeito de caracterizar a justiça e
refrear a vingança. Posteriormente, a retaliação literal pelos prejuízos foi
substituída por penalidades em dinheiro ou custos. Se, por exemplo, o dono de
um escravo o ferisse cegando-o de um olho, ou quebrando-lhe um dente, a
retribuição seria perder o escravo.
Entretanto,
os fariseus estendiam este princípio da justa retribuição dos tribunais legais
para os relacionamentos pessoais e assim tentavam justificar a vingança
pessoal, embora, noutras passagens, a Lei o proibisse (Lv 19.18). Jesus não contradisse o princípio da retribuição legal e
justa, mas ensinou que este princípio não se aplica aos nossos relacionamentos
pessoais. “Não resistais ao perverso...”
(RA) ou “Não se vinguem dos que fazem mal a vocês...” (BLH – Mt 5.39a).
Os
relacionamentos pessoas têm que se basear no amor, não na justiça! Veja comigo nos
vv.39b-42, os quatro exemplos de não
retaliação que Jesus deu: (a)
Uma agressão física (v.39b); (b) Uma ação gananciosa (v.40); (c) Um abuso de poder (v.41); (d) Um constrangimento (v.42). As reações sugeridas são expressões de amor, de domínio próprio, de
disposição para viver em paz com as pessoas. E não têm nada a ver com fraqueza ou covardia. Pelo contrário...
(cf. 1Pe 2.21-23; Rm 12.17-21).
3. Gente que ama até os inimigos –
vv.43-48
Jesus encerra esta cessão frisando a importância
do amor, até pelos inimigos. Ele usa o exemplo do próprio Deus Pai. Se
somos “filhos de Deus”, devemos imitá-lo!
O que ele espera de nós é que não “tenhamos
apenas uma atitude passiva diante do perverso, mas que tenhamos também um amor
ativo para com os nossos inimigos.”[2]
Agostinho disse o seguinte: “Muitos tem
aprendido a oferecer a outra face, mas não sabem como amar a pessoa que os
esbofeteou.”[3]
Para os fariseus e escribas do tempo de Jesus “o próximo” era apenas outro judeu,
considerando todas as demais pessoas, de outras nacionalidades, como inimigas.
E assim, sendo inimigas, poderiam ser odiadas. Dessa forma eles desconsideravam
outros mandamentos que regulavam a vida do povo judeu para com os inimigos – Êx
23.4, 5.
Mas, o sentido real da Lei de Deus é que o nosso
próximo é todo o ser humano e isso inclui nossos inimigos. Foi esse sentido
original da Lei que Jesus apresentou para os seus discípulos aqui.
O que temos que fazer pelos nossos inimigos,
segundo Jesus – v.44? Amar, bendizer, fazer bem e orar por eles,
isto é, mesmo odiado e sendo perseguido e caluniado, é dever do cristão buscar
o bem estar material e espiritual do próximo (cf. Lc 6.27, 35; Rm 12.20, 21; Lc 23.34; At 7.60). Para Jesus, o
que identifica que uma pessoa é filho de Deus é se ela ama todas as pessoas
indistintamente – v.44b.
Esse amor prático que Jesus ensina aqui é que faz
a diferença – vv.45-47. O ensino é: amar a todos, mesmo àqueles que ninguém ama
ou quer amar, que segundo Jesus são os perversos ingratos e maus (Lc 6.35). Só um cristão verdadeiramente
nascido de novo pode viver esse amor, pois ele mesmo já o experimentou em seu
coração e agora pode, pela graça de Deus, viver esse amor entre os seus
semelhantes. (cf. Rm 5.5, 8; 1Jo 3.10-18,
24)
É nesse contesto que Jesus afirma: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o
vosso Pai que está nos céus.” (v.48).
Creio, pelo contexto, que Jesus “nos
chama para sermos perfeitos em amar, isto é, amar até os nossos inimigos com a
mesma qualidade do amor de Deus”.[4]
Concluindo
Os princípios que estudamos hoje são próprios do
cristianismo bíblico, que ao serem postos em prática, produzem uma diferença
impar na vida cristã.
Quero concluir com o que disse Stanley Jones: Há três níveis na vida: O nível mais baixo... onde pagamos o bem com o mal e o amor com o
ódio, o nível acima deste, nível legal, onde pagamos o bem com o
bem, o mal com o mal e, o nível superior,
nível cristão, no qual pagamos o mal
com o bem, o ódio como o amor. A pergunta para reflexão é: Em
que nível de vida estamos?
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira – 24/05/14
[1] Daqui até o primeiro paragrafo do terceiro ponto, segue um resumo e
adaptação livre do livro de John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte,
Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar,
para Escolas Dominicais, 2001, com algumas adaptações minhas.
[2] Silva, Pr. Antonio Francisco da. O Sermão do Monte,
Lição 9, Editora Cristã Evangélica, p. 44.
[3] Ibid., p. 44.
[4] Ibid., p. 45.