domingo, 8 de dezembro de 2013

Os relacionamentos do cristão: com Deus e com o próximo (1)

Mateus 5-7 (5.1, 2)

Em nosso estudo anterior, vimos que:

ð O Sermão do Monte é um autêntico pronunciamento de Jesus. Seu conteúdo é relevante para o mundo moderno e seus padrões foram estabelecidos para serem cumpridos pelos cidadãos do Reino, aqueles que passaram pelo novo nascimento e fazem parte da família de Deus.[1]

ð Que o valor e a autoridade do Sermão do Monte está no Mestre que o proferiu. Ele é mais importante que o seu próprio ensino e que precisamos tomar consciência disso e aceitar e praticar os Seus ensinos.

ð Que na sua introdução em Mateus 5.1, 2, temos a identidade e a personalidade do Mestre Jesus, a identificação de seus ouvintes primários e a sua pedagogia.

Terminamos com a seguinte afirmação: “Façamos do padrão de Jesus o nosso padrão de vida. Falemos a Palavra com autoridade. Tenhamos um caráter integro: Amemos mesmo quando não esperamos receber amor, façamos o bem sem esperar recompensas. Tenhamos como objetivo supremo da nossa vida fazer a vontade do Pai, obedecer à Sua Palavra, obedecer aos Seus ensinamentos”.[2]

Hoje, vamos estudar Mateus 5.3-12. O texto fala das bem-aventuranças. A palavra bem-aventurados aparece nove vezes nesse texto e chamou muita a atenção dos ouvintes primários e a nossa também. Isso por uma razão especial:

ð O significado do termo grego usado makarios, é maior do que o português em uma só palavra possa expressar. O termo descreve aquela alegria ou felicidade interior, independentemente das coisas externas da vida. É do tipo abundante, igual à vida que Jesus dá aquele que o recebe como Senhor e Salvador de sua vida. É um tipo de alegria/felicidade teimosa, aparentemente arrogante, não científica, baseada na fé a não na instabilidade das circunstâncias de tempo e lugar, comprometida mais com a saúde da alma do que com o bem estar físico. Esta alegria/felicidade é resistente e durável e um exemplo bíblico dela, pode ser visto na oração do profeta Habacuque 3.17-19: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente”.

Há quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças:

ð PrimeiraBem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15;

ð SegundaBem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute – Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26;

ð TerceiraBem-aventurança não depende das circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10;

ð QuartaBem-aventurança está relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.

Observando o texto, é interessante notar que a primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt 5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, temos quatro fatos a considerar:

ð PrimeiroEle é um reino eterno;

ð Segundo Ele é um reino espiritual;

ð TerceiroEle é um reino contemporâneo;

ð QuartoEle é um reino dinâmico.

Pois bem, vamos agora considerar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro, tratam do relacionamento do cristão com Deus; e 2º) As últimas quatro, do relacionamento do cristão com o seu próximo.

I. O relacionamento do cristão com Deus – 5.3-6

Um relacionamento saudável com Deus está indispensavelmente ligado ao reconhecimento e a convicção de pecado, a confissão e a contrição por causa deles, o autocontrole pelo perdão e a presença de Deus e um viver agradável a Ele pela pratica da sua justiça.

1. v.3Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus...

A palavra pobre ou humilde descreve uma pessoa que não tem absolutamente nada. O termo grego fala de alguém desprovido de qualquer riqueza material. Mas, Jesus falou pobres de espirito, isto é, alguém que é absolutamente dependente da graça de Deus.

Essa bem-aventurança ensina duas verdades:

a. Primeira verdade – o reconhecimento e convicção da natureza pecaminosa humana. A profunda humildade de reconhecer que afastado da graça de Deus não há esperança, e de viver na inteira dependência divina. O verdadeiro crente tem a necessidade de reconhecer sua pobreza espiritual diariamente.

b. Segunda verdade – o reino dos céus pertence a aqueles que são pobres de espírito. Se não houver da parte do cristão o reconhecimento da sua pobreza espiritual, nem ao menos ele poderá ser chamado de cristão, como não haverá o recebimento do reino dos céus.

2. v.4Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados...

A palavra chorar usada aqui, na língua grega, é muito forte e tem o peso do lamento pela perda de um parente querido. Ao usar essa palavra, o evangelista, queria que entendêssemos que o choro a que Jesus se referia tinha dois sentidos:

a. Primeiro sentido – o que deve nos levar as lagrimas é o arrependimento pelos nossos próprios pecados – 2Co 7.10. Esse choro de arrependimento leva naturalmente a confissão – 1Jo 1.9-2.2.

b. Segundo sentido – é que deve haver por parte do cristão uma tristeza profunda por causa dos pecados dos outros, isto é, dos seus irmãos, da Igreja e da sua nação – Lc 19.41.

Aqueles cristãos que choram assim pelos seus pecados e os confessam a Deus, recebem a recompensa da consolação, isto é, o perdão!

Há uma ligação entre as duas primeiras bem-aventuranças. Observe: Ser pobre de espírito é sentir a convicção de pecado ou de pecados e chorar é arrepender-se dos seus pecados e confessa-los a Deus.

3. v.5Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra...

A palavra manso, aqui usada, é a tradução de um termo grego que descreve um animal que foi domesticado e treinado a obedecer ao comando do seu mestre. Assim, entendemos que é o oposto de estar fora de controle. Então, alguém manso é uma pessoa que demonstra autocontrole. O adjetivo grego praüs também significa gentil, humilde, aten­cioso, cortês e, portanto, o que exerce autocontrole, sem o qual estas qualidades seriam impossíveis.

Creio que a mansidão é fruto do refrigério que o cristão recebe pelo perdão dos seus pecados, da presença do Espírito Santo na sua vida e do aprendizado diário com Jesus – Atos 3.19; Gl 5.22; Mt 11.29.

4. v.6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos...

Comida e água são necessidades básicas, e aqui, Jesus, está dizendo que um cristão precisa de justiça da mesma forma que precisa de comida e água. Isto quer dizer que a vida espiritual depende de justiça assim como nossa vida física depende de comida e água.

Os termos gregos traduzidos por fome e sede, falam de um desejo muito forte, uma intensa busca, uma força apaixonada que vem de dentro da pessoa, uma ambição espiritual. Não há nada de errado com a ambição e a paixão, um impulso resoluto ou um grande desejo quando este sentimento se concentra na coisa certa. E a coisa certa aqui é a justiça de Deus.

A justiça na Bíblia é tem pelos menos três aspectos: aspecto legal, aspecto moral e aspecto social.

ð Aspecto Legal – é o que entendemos por justificação, isto é, o que nos dá um relacionamento correto com Deus – Rm 5.1.

ð Aspecto Moral – é a justiça interior de coração, mente e motivação que é fruto da justificação realizada por Deus no pecador – Rm 1.17; 6.19; Fp 1.11; 2Tm 2.22.

ð Aspecto Social – é a justiça que busca a libertação dos oprimidos e a promoção dos direitos humanos – Cl 4.1; Rm 5.20; Tg 2.1-13; Mas aqui precisamos de equilíbrio, pois Jesus disse: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes”. (Mc 14.7) A questão da justiça social começa com a busca dos valores do reino de Deus – “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. (Mt 6.33).

Lutero disse: É preciso ter uma fome e sede de justiça que jamais possam ser reprimidas, ou sustadas, ou saciadas, que não procurem nada e não se importem com nada a não ser com a realização e a manutenção do que é justo, desprezando tudo o que possa impedir a sua consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente piedoso, então faça o que você puder.

Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, 08/12/13



[1] Stott, John R. W. Contracultura Cristã, A mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, 1981, p. 11.
[2] Oliveira, Profa. Odila Braga de. O Sermão do Monte, Lição 1, Editora Cristã Evangélica, p.7-9.